Há aquela ideia de Portugal ser, no espaço europeu, o país dos poetas e das poetisas. Tal como a Alemanha é o berço de grande filósofos e França é de historiadores. Diz-se que em toda a parte há poetas de brilho que, mais populares ou mais eruditos, dominam a arte.
Nunca pensei muito nisso até conhecer outras culturas e perceber que de facto temos uma maneira de estar cultural peculiar. E há no Alentejo os tais poetas, nomeadamente uma poetisa que conjuga a sabedoria popular ao pensamento clássico como é pouco comum encontrar. Vale a pena conhecer ou voltar a Florbela Espanca através deste soneto célebre e marcante onde é clara a capacidade e domínio linguístico da escritora:
«Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder… pra me encontrar…»
Florbela Espanca, nascida em Vila Viçosa (na actual rua Florbela Espanca), Alentejo, em 1894, morreu em Matosinhos em 1930 e em poucos anos de vida deixou tão interessante obra.
Tiago Matias é licenciado em Estudos Europeus pela Faculdade de Letras de Lisboa