Durante anos trabalhei gratuitamente a ajudar uma ou duas paróquias da Igreja Católica no sector da pastoral da Cultura, e na religiosidade popular (com incidência em procissões, tríduo pascal, festas dos santos padroeiros locais, etc.). Apreciei e considero que é um trabalho válido da Igreja no tempo presente e que, se ela não existisse, mais ninguém o faria. Vi quase sempre leigos (as) a trabalhar, os párocos raramente apareciam – uns por trabalho e outros por indiferença.

Estes números do Relatório Final de abusos sexuais de menores na Igreja portuguesa são chocantes – tratados pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, coordenada pelo dr. Pedro Strecht. Bastava haver dois ou três casos numa instituição que se destina a defender o bem, o espírito moral e fez tábua-rasa dos seus valores para ser chocante, assim, é assombroso. Tem-me espantado, também, pensar como os católicos e católicas, sempre tão acérrimos na defesa de determinadas ideias, durante décadas e nomeadamente desde 1950, nunca tenham visto que algo estranho se passava no comportamento de alguns clérigos junto de crianças.

E espanta-me o silêncio de hoje. Como se nada se tivesse passado. Será que estão apenas preocupados em defender-se das críticas e pouco em erradicar o problema? É vergonhoso, caros leitores e leitoras. Tudo isto, aliás, não é vergonhoso, é criminoso.

Clarifico: ministros consagrados aproveitarem-se de crianças que lhes estavam próximas é criminoso. Claro que a pedofilia não existe só, nem se cinge, de maneira nenhuma, à esfera da Igrejae acontece em várias instituições da sociedade, muitas ainda pouco ou nada investigadas.

Espero que a hierarquia da Igreja (são membros da Igreja todos os baptizados/as) faça o que lhe compete, nos casos indicados e depois de naturalmente investigados do ponto de vista do Direito Civil e do Canónico. Como referiu em Declaração (datada de 13 de fevereiro de 2023. Cf. Declaração do Presidente da CEP após a apresentação do estudo da Comissão Independente – Conferência Episcopal Portuguesa (conferenciaepiscopal.pt)) e em conferência de imprensa D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa: “não toleraremos abusos nem abusadores.”.

Jesus Cristo foi o primeiro protector das crianças, ou alguém se esqueceu da passagem bíblica em São Mateus, 18, “Naquela hora chegaram-se a Jesus os discípulos e perguntaram: Quem é o maior no reino dos céus? Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.”?

Deus lhes perdoe.

Tiago Matias, diplomado em Estudos Europeus pela Faculdade de Letras de Lisboa

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