Um mês passou desde a minha última publicação e foi, de facto, difícil encontrar um novo tema sobre o qual escrever. No entanto, ao comentar com uma amiga sobre esta minha crise de criatividade, acabamos a discutir sobre a quantidade hiperbólica de funções e tarefas que vamos acumulando ao longo dos tempos e que, frequentemente, acabam por culminar em algo pior.

Ressalvo, desde já, que isto não é característico de uma determinada faixa etária. Tenhamos em conta que quer os estudantes, quer os trabalhadores, têm de lidar com esta pressão que a própria sociedade (ou o indivíduo, em alguns casos) lhe impõe. No caso dos estudantes, constatamos que para além do cumprimento das suas obrigações enquanto tal, também gostam ou sentem a necessidade de praticar atividades extracurriculares, sejam elas desportivas, artísticas, entre outras. Acontece, porém, que, muitas vezes, é difícil conciliar tudo e, consequentemente, começamos a acusar a pressão. No que aos trabalhadores diz respeito, a situação é exatamente similar, já que muitos deles acumulam empregos para conseguir pagar as despesas e para ter uma certa comodidade e, concomitantemente, agregar ao seu dia-a-dia funções domésticas, projetos pessoais ou simplesmente ter vida social e/ou a possibilidade de se cultivarem culturalmente.

Contudo, até que ponto é possível efetivamente concretizar estes propósitos? Haverá mesmo espaço nas nossas agendas para o fazer e fugir às nossas obrigações ainda que por breves instantes? E, mais do que isso, teremos a estabilidade mental necessária para viver uma vida plena e sem inquietações? A verdade é que não é fácil encontrar uma resposta a tais questões e torna-se ainda mais difícil obtê-la quando muitas pessoas acabam por entrar numa espécie de fenómeno “bola de neve”, sendo que este aumenta à medida que a situação piora.

Já ouviram falar no termo burnout? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o burnout não é considerado uma condição médica, mas foi reconhecido por esta entidade e incluído na 11.ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças, em 2019, como uma espécie de “condição temporária”, já que os fatores que o desencadeiam são bastante específicos. “O stress crónico no local de trabalho que não foi gerido com sucesso” é, segundo a OMS, o principal fator para o desenvolvimento desta condição e caracteriza-se e por gerar no individuo “exaustão, sentimento de negativismo e uma reduzida eficácia profissional”.

Num artigo publicado no Expresso, ao citar o STADA HealthReport 2022, é relatado que “mais de metade dos portugueses dizem já ter estado perto de sofrer um burnout. Além disso, a psicóloga Rute Ministro, entrevistada por este mesmo órgão de comunicação social, esclarece que o aumento de casos está associado à glorificação que se tem dado ao multitasking, ultimamente. Ou seja, valorizam-se trabalhadores que executem mais do que as suas funções e tarefas, que estão sempre em contacto com a entidade patronal e que trabalham para além do horário laboral.

No fundo, a questão torna-se um pouco paradoxal, já que a enorme preocupação, que existe hoje em dia, em torno da saúde mental dos indivíduos, não é compatível com as condições laborais tão precárias e prejudiciais com que nos confrontamos. O ser humano vive para trabalhar ou trabalha para viver? Como é que é suposto dedicarmo-nos a hobbies ou a outro tipo de atividades quando estamos constantemente a ser sobrecarregados com exigências profissionais, domésticas, etc.? Ou, em alternativa, quando tornamos “fazer mais é fazer melhor” a nossa máxima? Em suma, quis apenas discorrer sobre a forma como certos padrões e exigências conduzem, maioritariamente, a nossa saúde mental (e, inevitavelmente, física) a um estado de enfraquecimento, debilidade e, em última instância, doença. Dessa forma, estando consciente de que não é fácil combater todos estes fatores, é extremamente importante saber quando parar e estar atento a sinais anormais, para que não entremos nesta famosa espiral e percamos o controlo da nossa vida.

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