A mitigação das alterações climáticas através da redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) é decisiva mesmo a nível local, pelo efeito cumulativo ao nível global, defendeu uma investigadora da Universidade de Coimbra (UC).
Embora admitindo que, por exemplo, a plantação de árvores para aumentar o sequestro de CO2 não vai resolver os impactos das alterações climáticas ao nível local, nem tão pouco no curto prazo, Catarina Moura, investigadora do Centro de Ecologia Funcional (CEF) da UC, sustentou que essa é uma forma “de alcançar e motivar as pessoas”.
Mas, mais importante, a nível global, “será evitar ao máximo a desflorestação, conservando florestas existentes e restaurando outros ecossistemas”, disse à agência Lusa a bióloga da Universidade de Coimbra.
“Porque o CO2 se difunde na atmosfera e influencia o clima à escala planetária, o aumento da sua concentração neste reservatório é um problema global. Não há forma de o mitigar se não houver uma cooperação global”, enfatizou.
Daí que, e apesar de todas as suas limitações, o Acordo de Paris “tenha sido um passo histórico e incentivado medidas e planos muito relevantes”, advogou.
“É importante celebrarmos pequenas vitórias, assim como encontrarmos fontes de esperança e otimismo”, disse Catarina Moura.
Doutorada em Biologia e Ecologia e docente de Ecoliteracia num curso intensivo de duas semanas associado à Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável – que reuniu estudantes, portugueses e estrangeiros, da área das ciências naturais, mas também da economia ou do design, entre outras – Catarina Moura encontrou uma forma adicional de motivar os seus alunos para o problema das alterações climáticas, ao pô-los em contacto com um elemento da equipa de Ação Climática da ONU, depois de ter visitado a sede desta organização em Nova Iorque.
“É difícil passar a informação de que a situação é grave sem soarmos alarmistas, porque o ser alarmista pode levar a que as pessoas se sintam bloqueadas, achem que está tudo perdido e não queiram fazer nada, pensando que nada do que façam fará a diferença. Ao mesmo tempo, não podemos fingir que não se passa nada, porque o problema é sério, urgente e os impactos são múltiplos e graves como o que estamos a assistir, por exemplo, com as ondas de calor e outros eventos extremos”, argumentou a investigadora.
“É importante encontrar esse equilíbrio, mostrando a gravidade [das alterações climáticas], mas mostrando também que está ao nosso alcance contribuir para a descarbonização e para um futuro mais sustentável. E, para mim, é gratificante ver pessoas mais jovens sentirem-se mais motivadas e mais capazes. É um entusiasmo contagiante”, reafirmou.
A outro nível está a decisão política: “Se os decisores políticos de um país ou região levarem a sério a implementação das medidas de mitigação, e se essas políticas públicas conseguirem influenciar outros setores como empresas, até multinacionais, com uma distribuição geográfica abrangente, isso vai ter impacto nas escolhas e ações de outros. E não nos podemos centrar apenas nas consequências ambientais, temos de incluir as componentes económica e social”, alegou.
No entanto, para que isso aconteça, a especialista advogou a necessidade de existirem “decisores políticos empenhados, conhecedores destas áreas ou com apoio técnico especializado, empenhados e cientes de que os resultados não se compadecem com mandatos de quatro anos ou ciclos políticos”.
Já sobre as medidas de adaptação – como a construção de cidades mais resilientes – passíveis de serem mais fáceis de promover a nível local do que as medidas de mitigação, Catarina Moura enfatizou que o conhecimento científico existente pode ser um aliado de peso.
“Sabemos o que se está a passar e, em larga medida, o que se irá passar, pois os modelos climáticos atuais já são muito robustos; claro que há incertezas, mas o conhecimento existe, há muita informação consolidada e a ciência é muito forte nestas áreas. E podemos tentar planear as nossas cidades, os nossos territórios, em função dos cenários esperados”, frisou.
Para a investigadora da UC, face à ameaça das alterações climáticas, “tem havido muitos passos na direção certa”.
“Mas tem de haver um empenho coletivo da política, com visão a longo prazo, e um esforço integrado que envolva os cidadãos e vários setores da sociedade. Porque o direito de todos conseguirmos viver num ambiente saudável e sustentável, face a cenários climáticos diferentes, é, cada vez mais, um direito fundamental”, observou Catarina Moura.
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