Entrevista a Rondão Almeida, candidato do MCPE à Câmara Municipal de Elvas

José António Rondão Almeida nasceu em Elvas, a 21 de Dezembro de 1942. Começou por seguir uma carreira no futebol, tendo jogado na primeira divisão, mas uma lesão grave forçou-o a abandonar os relvados e a mudar de rumo. Iniciou então estudos na área comercial e começou a trabalhar na função pública, fixando-se em Évora durante 30 anos. Rapidamente progrediu na carreira administrativa no setor da educação, assumindo funções de chefia e formação.
Na década de 1970, envolveu-se no movimento sindical, tornando-se Secretário-Geral do maior sindicato do Ministério da Educação. Em 1978, foi convidado a integrar o PS e, pouco depois, foi eleito vereador da Câmara de Évora, cargo que exerceu durante dois mandatos, incluindo o período em que Évora foi classificada como Património Mundial. Em 1983/84, assumiu também a direção regional do FAOJ e da Casa da Cultura da Juventude.
Em 1993, prestes a aposentar-se com 36 anos de serviço, regressa a Elvas e, seis meses depois, é eleito presidente da Câmara Municipal, iniciando um longo percurso autárquico na sua terra natal.
Com um traço irreverente e um notável fulgor combativo, Rondão Almeida atira-se agora para o 7º mandato como Presidente da Câmara de Elvas, submetendo-se à segunda de três eleições possíveis, após uma interrupção de oito anos na presidência, altura em que foi vereador.
Aos 82 anos, o mais sénior dos candidatos autárquicos do país, recusa que a idade seja um handicap. A experiência que carrega, sem lhe pesar, e querer terminar o projeto que apresentou aos eleitores há 32 anos, dão-lhe o élan que necessita para continuar.
O líder da candidatura do Movimento Cívico Por Elvas (MCPE) segue na direção das Eleições Autárquicas de 12 de Outubro na companhia de Graça Luna Pais, que procura reeleger-se como presidente da Assembleia Municipal. O Mandatário da Campanha é António Imperial.

Não tivesse Rondão Almeida que pendular entre o Rondão Presidente da Câmara e o alter ego Rondão candidato a Presidente da Câmara, sujeitos a um temporizador em contagem regressiva, e a conversa dava para horas (sem se dar por elas). O histórico autarca tem um reportório proporcional aos 32 anos de permanência na Câmara Municipal, e uma memória expandida, com um arquivo organizado em gavetas, onde guarda o que já fez e o que lhe falta fazer.
Sentado à mesa de trabalho na sede campanha, com um cartaz da propaganda atrás das costas, outro na lateral direita e uma seara de espigas ao alcance da mão esquerda (símbolo do Movimento independente que lidera), o Comendador passa dos arquivos para os dossiers atuais, com uma admirável capacidade de correlação. Pelo meio justifica: “tudo o que está programado para os próximos quatro anos resulta de projetos que nasceram em 1994-95, mas que ainda não estão concluídos”. Terminar o que programou quando ganhou pela primeira vez as eleições à Câmara Municipal de Elvas é a principal razão da atual candidatura. “O meu projeto tem o antes, tem o atual, mas também tem aquilo que é o futuro. Há muita coisa para fazer que ainda não foi feita”, reforça. Em segundo lugar, Rondão Almeida afirma sentir-se “com todas as capacidades intelectuais e físicas para poder desempenhar o cargo de presidente”. Mas há um terceiro motivo: “a falta de alternativa”. Rondão, que soma em 2025 oito candidaturas a presidente do município elvense (esperando ser eleito pela sétima vez, porque em 2017 não ganhou), também entra agora na corrida por não ter encontrado herdeiro à altura. “Eles existem. No Partido Socialista havia excelentes jovens que davam excelentes presidentes, mas o partido deu cabo de um conjunto de quadros”. Antes de mudar de assunto, Rondão Almeida garante: “se o PS tivesse apresentado um candidato credível, poderia já estar a fazer a transmissão do legado. Estaria seguramente a concorrer a um cargo mais resguardado, por exemplo, a presidente da Assembleia Municipal”.

Resolver o problema da habitação em Elvas é tarefa primordial nos próximos quatro anos

Se for reeleito a 12 de Outubro, quando voltar ao gabinete da presidência no dia seguinte, Rondão Almeida vai abrir a pasta da habitação, que destaca como “prioridade máxima do próximo mandato”. Para o autarca “este é o maior problema social atual”, por atingir não só famílias carenciadas, mas também a classe média, “que perdeu poder económico e enfrenta agora dificuldades tanto para comprar como para arrendar casa”.
Rondão lembra que “atualmente, estão em curso intervenções em 300 fogos, incluindo a construção de 60 habitações com rendas acessíveis, com conclusão prevista para os próximos três meses. Para além disso, anuncia “a intenção de construir mais 10 apartamentos destinados à venda a jovens até aos 35 anos, ao preço de custo (cerca de 130 mil euros cada), resultantes da requalificação de um bloco na estrada de Santa Rita”.
Entre as principais inovações que está a apresentar, destaca “o projeto de construção evolutiva: os jovens adquirem terrenos a preços acessíveis e constroem, por fases, desde um T1 até um T3, conforme a evolução da família e das condições financeiras”.
O candidato à Câmara anuncia também a aposta na criação de casas de função, “destinadas a atrair e fixar profissionais essenciais como médicos e professores”. A previsão é reservar 20 casas em cada novo bloco de habitação para esse fim, com arrendamento acessível e carácter temporário.
Afirmando ser mais de “feitos do que de promessas”, Rondão Almeida compromete-se a “resolver o problema habitacional no próximo mandato”, mantendo as diretrizes atuais e introduzindo soluções inovadoras.

Aumentar o número de bolseiros e atribuir um montante adicional para pagamento das propinas

A área social tem marcado o estilo governativo de Rondão Almeida, que não deixa de fazer referência aos apoios que criou nos seus mandatos, focado em “resolver os problemas básicos da população, com especial atenção aos mais carenciados”. Destaca a abertura de jardins de infância, “que vieram colmatar a falta de resposta para os casais com filhos”. Aos dias de hoje, verifica a necessidade de ajustar novamente essas ajudas devido à “gratuitidade das creches decretada pelo governo”, que resulta numa escassez de vagas. Em resposta a essas dificuldades, “a Câmara está a preparar a ampliação de berçários, devendo trabalhar em parceria com instituições, replicando o modelo de sucesso da creche da Belhó Raposeira, que foi entregue à APPACDM”.
No capítulo do apoio à terceira idade, recorda que “no início, quando vim para cá, Elvas dispunha apenas de dois lares na cidade, o que deixava as freguesias sem resposta. Ao longo dos anos, foram criados centros de dia e lares em várias localidades”. Atualmente, a elevada procura “originou listas de espera”, razão pela qual Rondão Almeida determinou no atual mandato várias ampliações, que irão ter seguimento. “Estão já em curso ou previstas ampliações dos lares de Santa Eulália (com um investimento de 1,3 milhões de euros), Vila Fernando, São Vicente e Terrugem, bem como a construção de um novo lar em Vila Boim”.
Outro pilar das políticas sociais é o apoio ao ensino superior. “Apesar do regulamento prever 50 bolsas de estudo, no último ano foram atribuídas 200. O objetivo é chegar às 300, de forma a abranger 100% dos estudantes com candidaturas válidas”. O autarca anuncia ainda uma ajuda complementar: “Está a ser estudado um apoio adicional ao pagamento de propinas, que poderá cobrir entre 50% e 100%, dependendo da viabilidade económica”.
Rondão Almeida critica ainda propostas da oposição, nomeadamente a redução de 15% na fatura da água, apresentada pelo Partido Socialista, que considera “financeiramente insustentável porque representaria um custo de quase um milhão de euros para os cofres municipais” Em alternativa, propõe uma abordagem mais direcionada, “apoiando quem mais precisa: idosos e pessoas com baixos rendimentos”. De que forma? “Isentando o pagamento da taxa do contador da água e comparticipando até 100% os custos com medicamentos”. Contas feitas, estas medidas têm um custo estimado “entre 70 e 80 mil euros, valores, financeiramente viáveis para medidas socialmente justas”.

A abertura de uma Unidade de Cuidados Continuados e o apoio ao internamento domiciliário

No capítulo da saúde, José Rondão Almeida afirma que a sua prioridade é garantir a continuidade e o reforço dos serviços hospitalares em Elvas. Exige que a Unidade Local de Saúde do Alto Alentejo “mantenha o hospital da cidade em pleno funcionamento, incluindo o serviço de urgências, e rejeita a perda de valências a pretexto do novo Hospital Central de Évora. Reforça que “as instalações do hospital e do centro de saúde de Elvas precisam de uma requalificação total, que deve ser da responsabilidade da Unidade de Saúde, recorrendo a fundos comunitários, com eventual apoio da Câmara Municipal, caso existam linhas específicas de financiamento”.
A grande aposta do autarca é “a criação de uma Unidade de Cuidados Continuados de média e longa duração em Elvas, de forma a evitar que os doentes do concelho tenham de ser deslocados para unidades em Vila Viçosa ou Arronches”. Detalha que “a Câmara está disposta a comparticipar 50% do capital próprio não financiado por fundos comunitários, em articulação com a Unidade de Saúde”.
Rondão elogia ainda o trabalho desenvolvido em Elvas no âmbito do internamento domiciliário, liderado pelo médico fisiatra Pedro Gameiro. “Tem desenvolvido um trabalho extraordinário, que considero ser uma das inovações mais relevantes na área da saúde local”. Destaca “o acompanhamento feito a doentes após alta hospitalar, com cuidados ao domicílio, nomeadamente fisioterapia e tratamentos prolongados”. O candidato à reeleição da Câmara de Elvas mostra-se disponível para “reforçar e apoiar esse serviço, que já funciona de forma autónoma dentro da estrutura da Unidade de Saúde”.

Economia e fixação de empresas: “o problema reside na escassez de trabalhadores, sobretudo não qualificados”

Nos vetores: economia, emprego e empresas, Rondão Almeida identifica a falta de mão de obra como o principal desafio ao desenvolvimento económico de Elvas, afetando setores como o turismo, a restauração, a hotelaria, a agricultura, a construção civil e os contact centers. Apesar da existência de oportunidades e da criação de postos de trabalho por empresas como o McDonald’s, Vila Galé, ou a unidade de produção de cannabis medicinal, “o problema reside na escassez de trabalhadores, sobretudo não qualificados”. Para combater este défice, defende uma aposta reforçada na formação técnica no ensino secundário, “à semelhança do que era feito na antiga Escola Industrial e Comercial de Elvas”, bem como “uma melhor adequação da oferta formativa do Instituto Politécnico de Portalegre às necessidades da região”.
Ao nível do investimento, destaca a aquisição de 150 hectares de terreno para a expansão da zona industrial, apoiada por 5 milhões de euros de fundos europeus. Sublinha, contudo, que “as câmaras já fazem tudo o que está ao seu alcance, nomeadamente oferecendo terrenos e apoio à instalação de empresas, sendo o Estado Central quem deve criar incentivos fortes para atrair grandes indústrias para o interior”.
Defende também a criação de uma rede de transportes intermunicipal entre Elvas, Campo Maior e Badajoz, de forma a facilitar a mobilidade laboral e criar uma espécie de “área metropolitana do interior”. Considera esta medida “essencial para que as pessoas possam trabalhar nos concelhos vizinhos sem depender do transporte individual”. Por fim, critica a excessiva burocracia do Estado, que atrasa projetos fundamentais como a ampliação de equipamentos sociais, e apela à “descentralização de serviços públicos como forma de fixar população e estimular o desenvolvimento económico regional”.

Reabilitação e dinamização do centro histórico de Elvas

Quando se fala em reabilitação e dinamização do casco antigo da cidade, Rondão Almeida realça a “requalificação profunda do Centro Histórico de Elvas, que permitiu a sua classificação como Património Mundial em 2012. Substituí infraestruturas antigas, modernizei a iluminação e reabilitei edifícios marcantes, como o antigo hospital militar (hoje hotel), o antigo hospital civil (Museu de Arte Contemporânea), a biblioteca municipal, o Museu da Fotografia, o Cine-Teatro e vários imóveis militares, devolvendo vida e funcionalidade ao centro urbano”
Mais recentemente, a Câmara tem comprado e reabilitado dezenas de prédios no centro histórico “para criar habitação e atrair residentes”. Também foram “realizados projetos como o parque de estacionamento subterrâneo e estão previstos novos parques, embora condicionados pelas restrições do Ministério da Cultura”. Quanto aos imóveis degradados de particulares, refere que a “a autarquia tem limites legais na sua atuação”, mas mantém iniciativas como “o programa Recria e ações de pintura para valorizar a imagem urbana”.
Rondão propõe ainda “a criação de um centro artístico num conjunto de edifícios devolutos junto ao Museu de Arte Contemporânea, inspirado num modelo semelhante que conheci em Évora”. O objetivo é “atrair artistas independentes e dar nova vida cultural ao centro histórico, complementando o investimento já feito na zona comercial tradicional (Rua da Feira, Rua da Cadeia, etc.), onde estão a ser instalados microclimas e sombreamentos”.

7 milhões de euros para investir na educação

Rondão Almeida destaca um investimento de 7 milhões de euros na requalificação das escolas do concelho com destaque para “as básicas de Vila Boim e Santa Eulália (2 milhões de euros cada), já com financiamento garantido e em fase de concurso”. Paralelamente, estão a ser preparados projetos “para modernizar as escolas do 1.º ciclo, focando-se na substituição de caixilharias e na melhoria da eficiência energética. O objetivo é dar conforto e funcionalidade aos edifícios escolares antigos”. Para além disto garante a continuidade dos apoios sociais existentes, como transporte, alimentação e manuais escolares.

Contratação de guardas noturnos para reforço da segurança

A Segurança é uma das preocupações do candidato que defende uma abordagem a este tema “baseada na videovigilância, cujo projeto está pronto e aprovado pela PSP, aguardando apenas aval do ministro para avançar”. Recusa a criação de uma Polícia Municipal, por considerar “dispendiosa e redundante”, e propõe, em alternativa, “a contratação de 10 a 15 guardas noturnos contratados pela Câmara, para patrulhar os bairros da cidade entre as 22h e as 5h. Esta medida teria um custo muito inferior à proposta do PS de contratar 40 polícias municipais”. A aplicação nas freguesias “será ponderada futuramente”.

Redução do IMI para o mínimo legal e cortes significativos nas taxas municipais

Rondão Almeida propõe uma política fiscal mais leve e equilibrada para os munícipes de Elvas, com medidas que visam aliviar o esforço financeiro das famílias e empresas, mas com responsabilidade orçamental. Pretende “reduzir em 25% a tabela de taxas e tarifas da Câmara Municipal, corrigindo os aumentos excessivos feitos em 2019 por Nuno Mocinha, que chegaram aos 200%”. Para determinados serviços simbólicos, como certidões simples, Rondão defende “cortes ainda mais acentuados de 100%.
No que respeita ao IRS, Rondão recorda que, durante os seus mandatos anteriores, devolveu “sempre 2% dos 5% que a Câmara tem direito a arrecadar sobre o IRS dos munícipes. “Essa devolução foi suspensa por Nuno Mocinha, mas já foi parcialmente reposta no presente com a devolução de 1%”, sendo intenção de Rondão “recuperar a devolução total dos 2% no futuro”.
Quanto ao IMI, sublinha que “Elvas tem praticado historicamente a taxa de 0,4%, que não é nem a mínima nem a máxima permitida por lei”. No entanto, propõe que, “a partir do próximo executivo, a taxa seja reduzida para o mínimo legal, ou seja, 0,3%”.

Rondão Almeida pede aos elvenses “maioria absoluta para dia 12 de Outubro”, contudo, se ganhar com maioria relativa, estará disponível “para trabalhar com quem quiser colaborar em prol de Elvas, independentemente de coligações formais com partidos”. Sublinha que a sua “camisola é Elvas” e que está focado “em servir a cidade, não em fazer política partidária”.

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