Em dezembro último fez 500 anos da morte de D. Vasco da Gama (Sines, c. 1469 – Índia, 24/12/1524), almirante dos Mares da Índia, herói mundial português ainda por comemorar.
Como quase sempre, em Portugal não se comemora nem se agradece publicamente aos gigantes. D. Vasco da Gama foi uma pessoa decisiva, em Portugal e para o conhecimento mundial, ao descobrir o caminho marítimo para a Índia – e nem o quinto centenário da sua morte nos serviu de inspiração, parece impossível. Houve apenas pequenas referências avulsas, como no Museu de Marinha (cf. Marinha assinala 500 anos de Vasco da Gama e Luís de Camões. As imagens).
Camões (nascido em 1524 – Lisboa, 1580), que também deveria estar a ser publicamente celebrado neste quinto centenário do seu nascimento no país que cobriu de fama e glória, e que recordou Gama em «Os Lusíadas», termina bem o último Canto dos Lusíadas, com palavra icónica. Já agora, vale a pena ler a nova antologia e introdução notável de Frederico Lourenço: Camões. Uma Antologia, Frederico Lourenço – Quetzal Editores. E a biografia de Isabel Rio
Novo, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís Vaz de Camões, Isabel Rio Novo – Contraponto Editora.
Opta-se neste país – ao contrário do que aconteceu há 145 anos, na festa nacional que então celebrou o tricentenário da morte do vate na justamente denominada Praça Luís de Camões, em Lisboa – pela indiferença, conversa mesquinha e pela vulgaridade, como se ouve diariamente em todos os canais televisivos, exceptuando a RTP 2.
É como o poeta Almada Negreiros, nesta também sua dimensão literária, cintilante e apropriadamente lembrou: “A pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões” (José de
Almada Negreiros, in A Cena do Ódio).
É o que há. Envio uma saudação especial a todos os que, nas faculdades de Letras e nas associações culturais, estão a tentar lembrar que a evolução do mundo não se fez através do dinheiro.
Tiago Matias, professor, investigador em História Local e Etnografia, diplomado em Estudos Europeus pela Faculdade de Letras de Lisboa.

