As micro, pequenas e médias empresas da restauração e outras, enfrentam e enfrentaram um mar de problemas e dificuldades, no caso estamos a falar de encerramentos forçados, apoios praticamente inexistentes, já para não falar da falta de dinheiro para os clientes gastarem.
Ao invés das grandes cadeias de hipermercados que aproveitam a inevitabilidade do consumo para lançarem grandes campanhas entre as quais algumas de grande responsabilidade social em que se beneficiam a si próprias. Dos exemplos das promoções de produtos nacionais, clubes de produtores que servem para esmagar os pequenos fornecedores, acrescentando-se a generosa oferta de cabazes aos trabalhadores da empresa que não teriam necessidade do cabaz caso os salários fossem dignos, até a uma recente campanha do Pingo Doce “Unidos pela restauração – 3 gestos para apoiar o restaurante do seu coração”. A campanha, resumidamente, consiste no facto de cada cliente que faça uma compra superior a 50€ recebe um vale de 5€ – até aqui tudo bem – para descontar no Recheio (do mesmo grupo. Outra coisa não seria de esperar) – há então não é bem aquilo que parece – que pode ser utilizado no restaurante, café, pastelaria ou snack bar à escolha (do grupo).
Assim o Pingo Doce vai dar dois milhões de euros à restauração, ou seja, a si próprio. O verdadeiro apoio seria o cliente poder distribuir por quem bem entendesse, não acham? Mas não, o Pingo Doce fica com o desconto, com todos os privilégios, como horários quase normais, leis feitas à medida já para não falar dos malabarismos que são as engenharias financeiras. A propósito recordo que a sociedade Francisco Manuel dos Santos (principal acionista do grupo Jerónimo Martins) tem desde 2012 a sua sede fiscal nos países baixos.
A propósito os países baixos são um refúgio fiscal – estado nacional ou região autónoma onde a lei facilita a aplicação de capitais estrangeiros com percentagens de tributação muitos baixas. Na prática são zonas onde o controlo é inexistente e os impostos são reduzidos ou nulos. Então porque é que a sede não está em Portugal, a contribuir para a nossa economia? “Vale a pena pensar nisto”.
Filipe Mota é licenciado em Gestão e Organização de Empresas pela Universidade de Évora