Com as obras no edifício concluídas, a abertura do novo Museu de Arqueologia e Etnografia “António Tomás Pires”, em Elvas, está prevista para o final do ano e irá acontecer depois da fase musealização e colocação do espólio no espaço.
O edifício da antiga Manutenção Militar de Elvas foi transformado num museu de arqueologia e etnografia, num investimento de 3,2 milhões de euros, cuja empreitada de adaptação foi realizada pela empresa elvense Agrocinco.
Os trabalhos de construção foram concluídos nos últimos dias e a entrega da obra foi feita, esta semana, pela empresa do concelho ao município de Elvas, que seleccionou a Agrocinco após concurso público e analisadas as propostas.

O próximo e último passo é aquele que decorre neste momento: a fase de musealização do espaço, que implica dotar o museu do espólio etnográfico com a instalação de mobiliário e componentes audiovisuais. Esta derradeira etapa vai concluir-se até final do ano para que, no mês de Dezembro, o mais tardar no início de 2021, o museu seja inaugurado.
Fizemos o percurso do visitante. O pátio, cujo edifício cerca quem chega da entrada principal, é imponente. Visualmente limpo onde o branco domina, cor que também predomina no interior do museu e só é quebrada por um chafariz e uma oliveira estrategicamente inserida junto à entrada na direcção da recepção do museu.

Chegados à recepção é o balcão de madeira trabalhada e de dimensões generosas que salta à vista. Nele oculta-se um bengaleiro e a amplitude da sala, que terá também uma loja, sai beneficiada pela luz solar que as janelas permitem entrar.
Seguimos para o piso superior. É aqui que fica a exposição permanente e onde vai ser instalado o espólio já em preparação, decorridos que estão os trabalhos de recuperação e preservação das peças. Também nesta zona existe uma sala para o serviço educativo do museu e sanitários.
Foram preservados três fornos onde se fazia o pão, um dos quais permanece com os materiais e configuração original, para mostrar e relembrar o papel militar do edifício.

serviço educativo 
sala multimédia 
pormenor do edifício
Na parte superior do edifício encontramos ainda uma sala multimédia, que será visitável, mas também zonas interditas ao público, como as áreas técnicas, administrativas e de apoio aos trabalhadores do museu.
Descendo ao piso inferior prosseguimos na exposição permanente, onde os tectos abobadados, assentes em pilares, dão destaque à beleza da obra.

Todos os pormenores estão presentes, seja na forma como foram utilizados materiais para ocultar passagens, sejam em detalhes na iluminação ou na sinalética. Não houve lugar a cedências e isso é visível ao longo de todo o edifício.

Um pouco mais à frente, e junto ao pátio térreo do edifício, localiza-se a sala de exposições temporárias e um espaço polivalente. Uma escolha que se alterou nas ideias iniciais, mas que torna mais funcional a rotatividade do espaço e permite ao visitante entrar directamente no edifício para ver uma exposição temporária sem que seja necessário interferir com o circuito da exposição permanente.

Concluída a visita – ainda sem espólio – fica na retina a ideia subjacente de que será um museu a considerar para ‘esticar’ o tempo de permanência dos turistas na cidade. É preciso que os visitantes percam tempo e este será mais uma oferta disponível muito em breve.
A paixão assumida em comandar uma obra feita por prata da casa

O engenheiro João Dias, da Agrocinco, foi adjunto do director de obra ao longo dos meses de reabilitação da intervenção na antiga Manutenção Militar.
“Em termos arquitectónicos a obra veio somar ainda mais valor ao edifício pois foi uma intervenção cuidada da nossa parte, tendo por base um projecto muito bem pensado. Deixa- -nos orgulhosos porque, de facto, o resultado final é excepcional”, vinca o responsável.
A obra implicou uma forte componente de demolições, sobretudo nos primeiros seis a oito meses de trabalho. A zona técnica foi construída de raiz, ficando adjacente ao corpo principal do museu.
“Todas as paredes foram picadas, houve muitas demolições de zonas com reforço estrutural e que, em termos de construção e engenharia, requereu um esforço da nossa parte e uma análise muito cuidada. Foi também um desafio”, explicou João Dias.
O museu está dotado de infra-estruturas com “alguma singularidade”, como acrescentou o engenheiro, dando como exemplos o pavimento radiante no piso zero, a rede de incêndios ou o sistema de climatização AVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado) sem que exista quaisquer condutas à vista. “Isso passou por abrir canais nos pavimentos para criar condições de ventilação”, adiantou.
O engenheiro da Agrocinco não tem dúvidas em afirmar que este é um edifício feito a pensar no futuro e “de primeira linha” em tudo aquilo que são espaços de referência com este. Mais refere que o conteúdo museológico “é de primeira linha mundial”.
João Dias garante que este vai ser um museu já adaptado com componentes multimédia e digitais, o que, nos dias de hoje, é fundamental para cativar os mais novos que adoram essa vertente” nos espaços culturais.
Em declarações ao “Linhas”, o director de obra Roberto Vásquez, da Agrocinco, sublinha o cuidado na preservação da “identidade e da memória” do imóvel.
“Foi uma obra de muitos pormenores, mas tudo o que foi conservado dentro daquilo que era possível e respeitando o projecto. A preservação da memória do edifício foi assegurada para realçar a grande importância que a antiga Manutenção Militar teve, durante muitos anos, para a cidade de Elvas”, vincou o director de obra.
“Penso que a identidade do edifício foi mantida e conseguida com o trabalho que aqui foi feito. Estamos muito orgulhosos”, finalizou.

Pedro Trindade Sena jornalista
texto publicado originalmente na edição de dia 17 de Setembro do semanário Linhas de Elvas