“Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal!” Assim escreveu Fernando Pessoa, numa das suas obras mais aclamadas, “Mensagem”. Quando o poeta escreveu estas estrofes sabia a importância que o Mar, mais concretamente o Oceano Atlântico, tivera para Portugal. Contudo, parece que essa noção se perdera no tempo.Utilizarei este artigo para falar de três atividades humanas, com grande importância no nosso pais, que afetam o Nosso Mar.Pescas: Durante anos fomos incrivelmente dependentes do Mar para alimentação. Crustáceos (cranguejos, camarões e percebes), polvo, ameijoa, sardinhas, carapaus, douradas, peixe-espada, atum e outras centenas de iguarias marinhas que completam e dão sabor á nossa alimentação podem estar em risco por causa da pesca. Como assim? Isso não faz sentido? Toda a vida pescámos estes animais! Verdade, contudo há 100 anos eramos 5 milhões e hoje somos 11 milhões! Para além do mais, o nível de vida subiu, as pessoas têm mais cuidado com a sua alimentação e exigem mais variedade e qualidade. O Oceano pura e simplesmente não consegue aguentar tamanha procura. Qual é então a solução? Deixar de comer peixe? Claro que não, seria uma hipocrisia da minha parte desencorajar a dieta mediterrânica ou encorajar uma alimentação mais vegetariana. A solução é aquacultura. O quê? Peixes de aquário? Sim, porque não? Toda a carne que comemos regularmente provém de animais criados em cativeiro, muito poucos são os que de nós comem carne de caça semanalmente, até porque os que o fizerem não estão a respeitar o período de defeso. A pecuária aliviou a pressão que as populações selvagens de coelhos, perdizes, pombos, javalis e veados sofriam, hoje não precisamos de caçar estes animais para termos carne, então porque é que continuamos a exigir que o nosso peixe tenha nadado nos mares do Atlântico? Qual é a diferença de comermos uma bifana de um porco de pecuária e uma sardinhada com sardinhas de aquacultura?Plástico: Este é o problema mais falado nos últimos tempos e apelidado pela ONU de o maior desfio ambiental deste século. No dia 5 de Junho a Gerente de Campanhas da ONU Meio Ambiente, Fernanda Dalto informou que por ano são estimados o despejo de 8-13 milhões de toneladas de plástico nos oceanos. O governo português já veio afirmar que serão implementadas taxas adicionais ou incentivos que ajudem a redução do plástico em Portugal, mas só para 2021. Honestamente questiono o porquê de serem precisos 3 anos para implementar incentivos à redução do uso de plástico e apenas 3 semanas para debater legalidade da Eutanásia. Contudo, o problema do plástico é realmente muito complexo. Se por um lado este material mostrou que causa a morte de milhares de espécies de animais marinhos (como a baleia que morreu depois de engolir 80 sacos de plástico), demora centena/milhares a degradar-se (a verdade é que ninguém sabe ao certo, o tempo necessário para a degradação varia com o tipo de plástico) e desfaz-se originando micro-plásticos que entram nas cadeias alimentares (ficam dentro dos animais marinhos que nós consumimos), por outro lado estamos a falar de um material de baixo custo de produção, fácil e prático de usar e que está presente em tudo. Estamos preparados para deixar de ter embalagens descartáveis, capas de telemóvel, tupperwares, o revestimento dos fios elétricos, as luvas usadas em cirurgias/restaurantes/laboratórios, aquelas pequenas coisinhas que estão na ponta dos atacadores dos sapatos? A economia mundial está brutalmente dependente do plástico e por tanto reduzi-lo não será fácil, por uma questão de lucros mas também por questões práticas.
Petróleo: Recentemente foi descoberto um jazigo, possivelmente rentável, ao largo da costa Algarvia. A possibilidade de ser explorada levantou uma onda de protestos, que argumentavam a incompatibilidade desta atividade com o turismo, os elevados impactos ambientais e o facto de a prospeção ter sido autorizada sem um estudo de impacto ambiental. As economias mundiais ainda dependem muito de combustíveis fosseis, Portugal ainda não é exceção, contudo temos sido um exemplo de um país que tenta mudar este paradigma investindo cada vez mais nas energias renováveis (solar, hídrica e eólica). Não tem muita lógica um país que investe tanto nas energias renováveis e na descarbonização da sua economia ir a correr furar o Atlântico em busca do “ouro” negro. Todos nós sabemos o impacto dos combustíveis fosseis no ambiente, desde aumentarem o efeito estufa até aos derrames. Queremos deixar de estar na linha da frente da energia renovável e dar dois passos atrás?
Biólogo e mestrando em biologia evolutiva e do desenvolvimento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa