Nos últimos dias foram publicadas as nomeações do Senhor Arcebispo de Évora para o próximo ano pastoral e uma tal mudança “governamental” merece ser assinalada porque personifica o espírito missionário da Igreja Católica: “Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda a criatura (Mc 16, 15).O ícone missionário por excelência é a figura do Bom Pastor, esse servo fiel que nunca abandona as suas ovelhas e que as ama como filhas, mesmo as mais afastadas do rebanho. E a evangelização dos povos é missão de todos os sacerdotes, de todos os Bons Pastores, até porque essa tarefa – a de levar o Evangelho a todo o mundo – está longe de concluída. Mas o permanente espírito de peregrino mostra também como é actual a mensagem redentora de Cristo e deverá ser motivo de enorme orgulho para os que agora são directos herdeiros do apostolado de Paulo e de tantos outros santos homens e mulheres aos gentios.Como disse o Papa Bento XVI aos bispos em Fátima em 2010, “os Pastores não são apenas pessoas que ocupam um cargo” [mas] “são responsáveis pela abertura da Igreja à acção do Espírito Santo”. Daí que a comparação destas nomeações com uma simples alteração ministerial se fique só pela ideia de mudança na estrutura administrativa; em tudo o mais se distanciam tanto como um piolho de um leão. À figura do sacerdote deixou-se de dar a importância devida enquanto pastor de almas num mundo cada vez menos preocupado com elas. A sociedade promoveu uma influência laicizante contra aqueles que em primeiro lugar a tentavam evangelizar e o curso desta descristianização no próprio conceito de clero foi visível no abandono de gestos e comportamentos que, ainda que fossem exteriores, ajudavam a manter identificado o papel e o próprio do Bom Pastor. Primeiro, abandonou-se o hábito de beijar as mãos aos sacerdotes (São Francisco de Assis tinha tal respeito pelo poder divino que lhes fora conferido de consagrar o Santíssimo Sacramento que dizia bastante vezes que “se me cruzasse, ao mesmo tempo, com um santo vindo do Céu e um pobre sacerdote, cumprimentaria em primeiro lugar o sacerdote e correria a beijar-lhe as mãos. E diria: Espera São Lourenço [que era apenas diácono] porque as mãos deste sacerdote tocam o Verbo da vida e possuem um poder sobre-humano!”), depois o uso da batina e em muitos casos o do próprio cabeção.Por outro lado – e talvez ao mesmo tempo –, o sacerdote foi assumindo o papel de “presidente” da celebração, fruto de uma clericalização sem precedentes que entrou em cena: “Agora o sacerdote – o que ‘preside’, como agora o preferem chamar – torna-se o verdadeiro ponto de referência para toda a Liturgia. Tudo depende dele. Temos que o ver a ele, responder-lhe a ele, estar envolvidos naquilo que ele está a fazer. A sua criatividade sustém a coisa toda.” (Cardeal Ratzinger, Introdução ao Espírito da Liturgia, Cap. 3). Ora, quando assim sucede, desvirtua-se o conceito essencial da missa, que é o da renovação incruenta do calvário em que Cristo é o únicoprotagonista enquanto sacrificado (porque Ele é o cordeiro que vai ser imolado), sacrificante (por ser Ele o sacerdote que imola a vítima) e altar (porque o sacrifício é feito no seu próprio Corpo). Depois destas conclusões tão profundas a que a Igreja chegou sobre a Santa Missa, nada mais me deveria atrever a escrever, porque só sairão disparates. Mas o ponto onde gostaria de tocar é este: quando o sacerdote actua, não o faz em nome próprio mas fá-lo sim “in persona Christi”, na pessoa de Cristo: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2, 20). E nesse sentido é Cristo que se mantém nas vigarias de Alcácer do Sal, Évora, Reguengos de Monsaraz, Arraiolos, Coruche, Montemor-o-Novo, Elvas e Vila Viçosa, ainda que os seus párocos se alterem, eé também Cristo que igualmente se muda de uma paróquia para outra e de uma vigaria para outra nas pessoas dos seus sacerdotes.Porque queremos sacerdotes santos e por que cremos que o são, encher-nos-á saber que esse caminho da santidade – essa vida cristã ordinária levada na medida alta, como dizia o Papa João Paulo II – pode ser percorrido com a alegria da missão e da abnegação pelo serviço aos outros, renunciando ao conforto da estabilidade do lar. Que Nosso Senhor os acompanhe, Bons Pastores!

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