Vivo agora com quem partilho coração há 19 anos. Apenas as duas. Pensava que a conhecia bem, porque vi muitos dos desgostos, participei em muitas das alegrias e aplaudi certamente todas as conquistas. Mas, se me perguntassem, nunca saberia qual a sua primeira refeição após todo este pesadelo, o que é, sobretudo, triste.
Já sabia que vivíamos as horas de sol de maneiras diferentes: ela gosta de sentir o linho dos lençóis até que se façam horas de almoçar e eu de sentir a brisa gelada que choca de frente com os olhos entreabertos nos primeiros raios de sol da manhã. Interessante como nunca tinha reparado que guarda energia para a noite, quando liga para cinco amigos de três partes diferentes do globo e ri como se o mundo lá fora nunca tivesse parado.
Sabia perfeitamente que, tal como eu, tem uma extrema apreciação pela comida e que se petiscar fosse requisito, o nosso CV passaria à frente de todos os candidatos. Mas nunca tinha pensado no peso da diferença entre massa e arroz. Foi só sobre isso que falámos ao jantar: massa e arroz, as suas incríveis qualidades e as poucas limitações que podem ter. Supusemos um mundo em que fosse preciso escolher um e foi quando já estávamos no café que percebemos que era uma discussão sem fim, do mesmo género de todos aqueles porquês que nem os pais sabem responder quando somos pequenos.
Queria que eu escolhesse a minha cor preferida, mas disse-me que tinha de justificar. Disse-lhe que gostava de branco, porque era limpo, mas que me vestia sempre de preto porque achava que combinava com o meu cabelo loiro. Que confusão! Fiz-lhe a mesma pergunta. Respondeu que era azul. Quando lhe perguntei porquê, disse-me assim:
– É azul porque tem um espetro maior. Pode apanhar toda a noite ou um céu de verão. Pode apanhar tons de piscina limpa ou de um casaco velho que não queres deitar fora. É a cor das casas da praia e a cor que o jogador que ganha um videojogo normalmente escolhe. Gosto de azul.
Num jantar fiquei a saber que a minha irmã, que eu amava profundamente há 19 anos, tinha boas razões para gostar de azul e me fez gostar mais de azul também. Que partilhava refeições comigo completamente fora das suas horas estranhas para podermos falar de nós e para fazermos silêncios juntas quando o assunto recaía no que se passava lá fora. Aprendi ainda, que depois de tanto tempo, quando me dizia que tanto fazia não era porque estava desinteressada ou para me fazer o jeito: tanto gostaria de um esparguete carbonara como de um risotto. E eu, com as mãos a segurarem-me o queixo e um sorriso confiante, já sabia o que ia fazer para ela amanhã ao almoço.
Catarina Cambóias
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