A pandemia do COVID-19 continua e com ela mantemo-nos em estado de emergência e em isolamento social. O facto de estarmos em isolamento por esta razão leva a um aumento da ansiedade sentida por todos os portugueses.
Encontramo-nos enclausurados em casa, na incerteza de como será o nosso futuro, com dificuldades em coordenar o nosso trabalho com a vida de casa e, para quem tem filhos, junta-se o facto de o 3º período ser online e todas as especificidades associadas a isto – a telescola, fazer as tarefas que são enviadas pelos professores, entre outros.
Tudo isto leva a níveis de ansiedade muito altos em relação aos quais não estávamos habituados a lidar. Desde o mais pequeno, ao mais velho, todos nos sentimos afetados com a atual situação.
As pessoas expressam a sua ansiedade de forma diferente. Umas internalizam os seus problemas, retirando-se emocionalmente dos seus trabalhos, famílias, relacionamentos. Sentindo-se cada vez mais infelizes e sem energia para tudo o que está a sua volta. Outras, externalizam, ou seja, deitam tudo para fora. Tornam-se mais agressivos, quer física, quer verbalmente, refugiam-se em coisas que lhes dão prazer, como a comida e o tabaco.
Ambas as formas trazem consequências para as nossas relações sociais. E uma vez que nos encontramos 24 horas com as mesmas pessoas, devido ao isolamento, começa a notar-se cada vez mais os efeitos da ansiedade trazida por esta situação.
De forma a poder ajudar-vos a diminuir essa ansiedade, venho deixar-vos uma técnica criada por Russ Haris, que se chama “FACE COVID” (Encara o COVID). Esta inclui um conjunto de nove passos, baseados no acrónimo do seu nome – FACE COVID.
Vou-me focar, neste artigo, nos quatro primeiros passos. Após a mestria nestes primeiros, poderemos aprender os próximos. Estes devem ser usados como um conjunto e não de forma individual, e gostava que tivessem em mente que estas são apenas estratégias e não formas de curar sintomas de ansiedade.
Comecemos pelo F, o foco. Apesar de estarmos numa situação de incerteza, devemos manter o foco naquilo em que temos controlo, em vez de preenchermos os nossos pensamentos com tudo aquilo que não podemos controlar. O foco é para ser mantido nas nossas ações, no aqui e no agora, para respondermos de forma eficaz a esta crise.
O A vem “acknowledge” e diz respeito a reconhecer os nossos sentimentos e pensamentos. Devemos pensar sobre eles e traduzi-los por palavras, por exemplo, “aqui estou a preocupar-me em demasia”. Isto ajuda-nos a tornar-nos conscientes deste pensamentos e sentimentos que muitas vezes tomam contam de nós.
O C é de “come back”, é o voltar ao nosso corpo. É ouvirmos o nosso corpo e dar-lhe atenção. Cada pessoa tem sua maneira de entrar em conexão com o seu corpo. Deixo aqui alguns exemplos que podem utilizar – alongar braços, pernas, pescoço, dedos e respirar profunda e calmamente.
O E diz respeito ao “engage”, isto é, envolvermo-nos nas nossas tarefas. É ter a perceção de onde estamos e o que estamos a fazer, de modo a dar atenção necessária ao momento.
Estes são os quatro primeiros passos para lidarmos com a ansiedade diária pela qual estamos a passar neste momento. Gostaria de ressalvar, uma vez mais, que isto são apenas estratégias e não formas de cura. Para além disso, não quer dizer que resultem com toda a gente. Há que ir descobrindo calmamente aquilo com que nos identificamos.
(continuação na próxima semana)
Ana NevesMestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

Carregar mais artigos relacionados
Carregar mais artigos por Redacção
Carregar mais artigos em Opinião

Veja também

Gavião dá mais um passo na implementação do “Transporte a Pedido”

O Município de Gavião, em colaboração com a Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CI…