No âmbito das comemorações do 75º aniversário deste semanário, encontra-se patente a exposição “Dar a Palavra” numa das casamatas do Museu Militar de Elvas, cuja divisa é “Covsas Qve Jvntas se Acham Raramente”.

E foi isso mesmo que aconteceu, juntar três elementos patrimoniais da cidade: o Museu Militar, a arte contemporânea e a informação regional, o “Linhas de Elvas”.

A exposição, composta por 14 peças de 13 artistas diferentes, que podem ser conotadas com o acto de informar, vai estar aberta ao público até ao próximo domingo, dia 5 de Outubro.

Na primeira sala somos recebidos com a tela Canção de Setembro #3, 2022, de Ana Jotta, assumindo todo o protagonismo o mês de Setembro, mês no qual teve início o projecto jornalístico “Linhas de Elvas”. Olhamos em frente e vimos Horizonte, 2015, de Joana da Conceição. Esta enorme tela avisa-nos que somos uma geração em trânsito porque somos (actualmente e no passado) um grupo de pessoas cuja identidade, experiência e perspectivas estão fortemente marcadas pelo território onde estamos inseridos, o Alentejo, a proximidade da fronteira… um enorme horizonte nos envolve.

Vera Mota na sua Construção Contínua, 2018, assegura-nos a robustez, o peso e o rigor da nossa informação. Passamos pela peça Orelhas de Burro, 2016, de Belén Uriel, e lembramo-nos de que no Estado Novo, na sala de aula, se cantava o hino, rezava-se e, quando um aluno se portava mal ou não sabia a matéria, era colocado num canto com orelhas de burro.

Em Suspenso, 2021, de Ânia Pais, fixada ao fim da sala, num local onde tudo se encaixa, a luz, o som, a brisa. Em suspenso como tantas e tantas vezes nos sentimos. Destacamos também duas obras de Xavier Almeida, Ansiedade, 2019, um luzidio cavalo marinho em carrossel que emite sons de uma respiração ofegante, em ansiedade. Todos os que trabalham em comunicação social identificam essa emoção natural de medo e preocupação perante ameaças ou momentos de indecisão ou azáfama.

A Bandeira Rebelde (Faixa para manifestações), 2020, lembra-nos todos os rebeldes que fazem avançar o mundo. Há sempre um pouco de rebeldia em quem sonha e faz o mundo avançar. Porque somos uma geração em trânsito, que fez/faz a ponte entre um antes e um depois.

Na sala auditório exibe-se uma peça muito interessante de Maria Lusitano, o Correspondente de Guerra, 2009. Um vídeo-instalação de 46 minutos sobre a história da representação de conflitos armados nos mass media. Este vídeo-ensaio narra a história do primeiro correspondente de guerra, William Russel, que cobriu a Guerra da Crimeia, ocorrida entre 1854-1856, para os jornais ingleses. Já não temos o relato dos vencidos nem dos vencedores, mas sim a objectividade de um jornalista presente no conflito.

Estão também presentes nesta exposição obras de João Leonardo, Lista de Verbos, 2006; Novo Dicionário de conversação, 2014, de Igor Jesus; Vox, 2001, de Julião Sarmento; de João Onofre, Declaração Universal dos Direitos do Homem e uma imagem de beleza convertida em código binário, Versão Y, 2014; de Horácio Frutuoso, In the future you Know who you are, 2019 e Inv. 78, 2021, de Daniela Ângelo.

Tentámos juntar obras da colecção que revelassem uma conotação com o acto de informar, de comunicar. O não óbvio da arte contemporânea com o óbvio e objectivo da informação.

“Dar a palavra”, título sugerido pelo coleccionador, Comendador António Cachola, é um título muito feliz. A palavra enquanto elemento visual, poético, conceptual surge aqui como ponto de convergência. Encarar o potencial da palavra na prática artística e jornalística como um dispositivo formal, um lugar de pensamento ou um ponto de fricção entre tempos e discursos. É esse o desafio. Será sempre o nosso desafio: dar a palavra a um, a muitos, a todos.

Carregar mais artigos relacionados
Carregar mais artigos por Ana Maria Santos
Carregar mais artigos em Actual

Veja também

China espera papel construtivo do Congresso dos EUA na cooperação bilateral

A visita a Pequim de uma delegação da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, lidera…