O organismo que investiga acidentes aéreos recomenda à empresa responsável pelo balão de ar quente que tentou amarar na albufeira de Alqueva, no concelho de Mourão (Évora), causando um morto, que reforce a formação prática de pilotos.
A recomendação de segurança do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) consta do relatório final ao acidente, hoje divulgado e ao qual a agência Lusa teve acesso, e surge na sequência de falhas detetadas ao nível da segurança pelo operador e na atuação do piloto, que culminou na morte de um passageiro.
“Recomenda-se que o operador reforce a componente de formação prática de pilotos, inicial e recorrente, relativa aos procedimentos de aterragem e amaragem com foco na escolha dos locais de aterragem, tipificando áreas adequadas e evitando a escolha de locais com limitações/obstáculos naturais que possam afetar a realização da manobra com sucesso, seguindo o definido nos manuais aplicáveis”, frisa o GPIAAF.
Este organismo recomenda também ao operador, que exerce a atividade em Portugal desde 2004, “a implementação de um sistema efetivo de reporte e análise de ocorrências, servindo de base e suporte à sua matriz de avaliação e mitigação de risco da operação”.
“Da mesma forma, cabe ao regulador, a ANAC [Autoridade Nacional de Aviação Civil], a supervisão de tais práticas, agindo em proximidade com o operador e outros regulados para que o sistema de gestão da segurança funcione de forma efetiva”, sublinha o GPIAAF.
Sobre a história do voo, pelas 06:37 de 28 de abril deste ano, ao nascer do sol, o balão de ar quente descolou de um campo junto à vila de Monsaraz com piloto e 13 passageiros para um voo turístico comercial, acompanhado de um segundo balão, com piloto e 18 passageiros.
Hora e meia depois, o piloto iniciou a descida para tentar encontrar um local para aterrar, junto à zona onde se encontrava a equipa de terra, mas não conseguiu. Após ganhar novamente altitude, o piloto iniciou a manobra de aproximação, tentando aterrar antes da margem norte (lado de Mourão) do plano de água formado pelo ramo da ribeira do Alcarrache da albufeira da barragem do Alqueva.
O GPIAAF conta que o balão foi sendo arrastado por ação do vento para a água e que, por decisão do piloto, este decidiu “amarar num baixio do esteiro, pois, atendendo ao que entendia ser uma reduzida quantidade de combustível remanescente a bordo, esta pareceu-lhe a melhor opção”.
O cesto do balão tocou a superfície da água a poucos metros da margem e o piloto solicitou aos passageiros “para que dois ou três homens saíssem do balão para arrastarem o cesto para terra”.
Segundo a investigação, à medida que o balão se ia afastando da margem devido à força do vento, “vários passageiros declararam que o piloto, após um par de minutos de indecisão, começou a mostrar irritação, insistindo para que os dois passageiros que se voluntariaram saltassem para a água”.
E foi em “águas mais profundas e a cerca de 20 metros estimados da margem” que um passageiro “saltou para a água”.
“O piloto, ao aperceber-se que não havia forma de contrariar o movimento de arrastamento do balão por ação do vento, decidiu nessa fase descolar novamente para tentar uma aterragem no outro lado da margem do rio (margem sul). O passageiro que saiu do balão terá tentado chegar à margem a nado, local inicialmente previsto para a aterragem (margem norte). Uma testemunha afirma que o passageiro nadou de costas até próximo da margem”, lê-se no relatório.
A investigação diz não haver dados disponíveis para determinar a distância até à margem desde o ponto de saída do passageiro do cesto.
“Contudo, a roupa e calçado que usava, em adição à ausência de instruções de amaragem por parte do piloto conforme requerido no manual de voo do balão e a situação envolvente desconhecida, terão contribuído para o desfecho do evento”, salienta o GPIAAF.
Ainda decorre o inquérito aberto pelo Ministério Público (MP).

JGS // MCL
Lusa/Fim

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