Enquanto o mundo debate os impactos da Inteligência Artificial (IA), Elvas surge inesperadamente no centro dessa conversa com um projecto inovador que cruza tecnologia e tradição alentejana. Chama-se Aimée Alves e é a primeira influenciadora digital do Alentejo, criada inteiramente através de IA generativa.
Mais do que um simples avatar, trata-se de uma personagem hiper-realista, concebida com rigor técnico e artístico, que pretende promover o património, o estilo de vida e a identidade da região junto de uma audiência digital contemporânea.

O projecto é da autoria de André Eduardo Pozzobon, designer gráfico de formação, licenciado pela Faculdade de Arquitectura, Artes e Comunicação (UNESP/Bauru/São Paulo), e residente em Elvas há mais de duas décadas.
A ideia foi apresentada ao jornal “Linhas de Elvas”, numa entrevista onde o criador explicou a génese, os objectivos e o potencial desta “musa digital” alentejana.
Uma influenciadora com alma alentejana
Virtualmente sediada em Elvas, Aimée Alves foi pensada como uma embaixadora do chamado slow living. A sua agenda de conteúdos é maioritariamente local e regional, com passagens já “realizadas” pelo Aqueduto da Amoreira, pelo Centro Histórico de Elvas, pelas comemorações da Azevia ou pela Cozinha dos Ganhões, em Estremoz.
Através dessas presenças digitais, a personagem demonstra conhecimento das tradições, da gastronomia e da vida comunitária, assumindo-se como promotora da marca “Alentejo”.
“O conceito é claro: mesmo quando a Aimée viajar para fora, ela leva sempre a alma e a estética do Alentejo com ela”, refere André Pozzobon.
A personagem poderá surgir noutras regiões do País ou mesmo no estrangeiro, mas sem nunca perder o vínculo à planície, ao ritmo calmo e à identidade cultural de onde nasceu.
Hiper-realismo e direcção artística rigorosa
Um dos aspectos que mais impressiona no projecto é o elevado nível de realismo da influenciadora. A coerência anatómica, estética e de iluminação faz com que, à primeira vista, Aimée Alves seja quase indistinguível de uma pessoa real. Esse resultado não surge por acaso.


“Existe uma ideia errada de que a IA é só escrever um comando e está feito. Não é assim”, sublinha o criador. “Há muito trabalho humano por trás: saber o que pedir, como pedir, manter a consistência da personagem… Criar uma pessoa virtual exige atenção a detalhes como a pele, a luz, as expressões… O mais difícil é garantir que ela seja sempre reconhecível”, acrescenta.
Segundo André Pozzobon, a evolução das ferramentas de IA tem permitido ultrapassar limitações iniciais, como alterações involuntárias nos traços faciais ou na fisionomia. Ainda assim, o processo implica testes constantes, rejeição de imagens e um domínio técnico significativo.
Quem é Aimée Alves?
Na biografia criada para a personagem, Aimée Alves tem 25 anos, é natural de Elvas e licenciada em Design e Produção de Moda. Cosmopolita por formação e interesses, optou conscientemente por regressar ao Alentejo, onde trabalha online e vive ao ritmo da tranquilidade regional.
Define-se como defensora do “luxo da escolha”: ter tempo, silêncio e qualidade de vida sem abdicar da ligação ao mundo.
A sua identidade estética é descrita como “Mecânica Chic”, reflectindo uma personalidade multifacetada, onde a sofisticação da moda convive com uma paixão por motores e autonomia, inspiração que, na narrativa, nasce da convivência com o antigo Land Rover do avô.
Aimée Alves já pode ser seguida nas redes sociais, nomeadamente no Instagram (@ai.meealves) e no Facebook (@aimeealves.oficial).
Tecnologia não como ameaça, mas como oportunidade
Durante a apresentação, André Pozzobon fez questão de desmontar a ideia de que a Inteligência Artificial é apenas uma ameaça ao emprego. “O ponto de retorno já passou. A IA está aí e vai continuar. Mas atrás dela haverá sempre humanos e, com isso, novos empregos e novas oportunidades”, defendeu.

Para o criador, o projecto da Aimée é também uma demonstração de que o interior do País pode ser um espaço de inovação tecnológica. “Há este contraste que me fascina: uma região associada à agricultura, à tradição e à calma, a criar algo que é tecnologia de ponta. Isso mostra que não estamos parados no tempo”, afirma.
Divulgação, parcerias e futuro
Embora o perfil da influenciadora tenha sido lançado há pouco mais de um mês e ainda tenha poucos seguidores, o objectivo é claro: crescer, expandir-se para novos formatos e, eventualmente, estabelecer parcerias com marcas e instituições.
“Não é uma brincadeira”, afirma André Pozzobon. “A ideia é juntar o útil ao agradável: divulgar a região, inspirar pessoas e, claro, encontrar formas de monetização, sempre respeitando os princípios da personagem”, frisa.
Entre os próximos passos estão a criação de conteúdos em vídeo, o desenvolvimento de uma voz própria – com ou sem um ligeiro sotaque alentejano – e a possibilidade de podcasts, YouTube ou até colaborações editoriais. “As possibilidades são infinitas”, resume. Num tempo em que a Inteligência Artificial levanta tantas interrogações, Aimée Alves surge como um exemplo concreto de como a tecnologia pode ser usada para valorizar identidades locais, aproximar gerações e projectar Elvas e o Alentejo para o futuro digital, sem perder a ligação às suas raízes.
