Decorreu em Vila Viçosa, no dia 25 de outubro de 2025, o Simpósio Temático Internacional “Maria, uma Mulher entre o Humano e o Divino: Teologia, Cultura e Arte”. Este evento reuniu, no Cine-Teatro Florbela Espanca, alguns investigadores provenientes de vários países – Roménia, Espanha e Portugal –, que refletiram sobre a temática da doutrina assuncionista que há 75 anos, no dia 1 de novembro de 1950, foi proclamada dogma pelo papa Pio XII.
Organizado pelo Instituto da Padroeira de Portugal para os Estudos de Mariologia (IPPEM), em colaboração com o Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta, o simpósio teve duas grandes sessões: uma matutina, valorizando sobretudo a perspectiva teológica; a outra vespertina, mais dedicada à cultura e à arte.
De manhã, depois da sessão inaugural, ouvimos três intervenientes. O professor Ioan Dura da Universidade de Olvidius (Constança, Roménia) refletiu sobre as implicações teológicas do referido dogma numa perspetiva ecuménica, envolvendo não apenas o catolicismo, mas também a teologia ortodoxa. Ele sublinhou sobretudo o valor do corpo humano no cristianismo, não apenas numa dimensão escatológica, mas também na realidade quotidiana, e o modo como essa valorização desafia as sociedades atuais e a sua cultura hedonista. Depois, duas outras conferências complementaram esta abordagem teológica. A professora Ianire Angulo Ordorika da Faculdade de Teologia de Granada refletiu sobre o tema em perspetiva bíblica: “Maria, mulher singular, na Bíblia”. Numa abordagem verdadeiramente inovadora, mostrou a singularidade da figura de Maria à luz dos dois evangelhos menos usados nas reflexões mariológicas, ou seja, em Marcos e Mateus. A sua reflexão ajudou a compreender melhor o título do simpósio: a mediação mariana entre o humano e o divino. Seguiu-se depois uma conferência da professora Maria Isabel Roque da Universidade de Évora, que refletiu sobre a importância da festa da Assunção à luz de um influente documento do século xviii, o Santuário Mariano de frei Agostinho de Santa Maria. Ao longo da nossa história, Nossa Senhora da Assunção foi uma das principais festas litúrgicas e foi muito acarinhada pelo povo português, como o provam admiravelmente os vários volumes da mencionada obra.
Na sessão da tarde foi mais dedicada à cultura e à arte. O professor Porfírio Pinto da Universidade Aberta de Lisboa fez um breve recorrido pela representação das cenas assuncionistas (Dormição, Assunção e Coroação da Virgem Maria) na arte portuguesa, quer nas imagens de vulto, quer na pintura, no azulejo ou ainda no vitral. O professor José Eduardo Franco da mesma universidade mostrou como a doutrina assuncionista inspirou também vários carismas de congregações religiosas, ao mesmo título que outras doutrinas cristológicas ou mariológicas. A Virgem Maria, mãe e discípula, nunca deixou de inspirar os vários apostolados eclesiais. O doutor Carlos Filipe, presidente do IPPEM e investigador da Universidade de Lisboa, abordou o tema da devoção e arte relacionados com a invocação da Senhora da Boa-Morte em Vila Viçosa, expressão muito concreta e extraordinária da doutrina assucionista. Na última conferência do dia, o professor Marco Daniel Duarte do Departamento de Estudos de Fátima e Cátedra dos Estudos de Fátima da Universidade Católica Portuguesa trouxe-nos um estudo de caso, envolvendo a bandeira da União Europeia, acerca dos usos e significados da iconografia de inspiração mariana, mais concretamente a imagem apocalíptica da coroa de doze estrelas, utilizada na iconografia imaculista.
O simpósio teve uma assembleia muito participativa, pelo que os momentos de debate foram também enriquecedores para todos. Foi depois encerrado, pelas 17h30, foi lida uma mensagem do senhor arcebispo de Évora, D. Francisco José Vilas Boas Senra de Faria Coelho que se dirigiu de modo particular a todos os participantes, evidenciando a importância e oportunidade deste encontro promovido pelo IPPEM.
