Entrevista a Ana Albergaria, candidata da CDU à Câmara Municipal de Elvas

Ana Albergaria nasceu no Porto há 45 anos. Exerce atividade profissional como operadora de Centro de contactos. Formada em Gestão Hoteleira, reside em Elvas há 27 anos. Ativista desde 1998 nos sindicatos da CGTP-IN, é desde 2022 dirigente da FIEQUIMETAL (Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas). É também Presidente da CSIR – Conselho Sindical Inter Regional 2025-2027 (Alentejo Extremadura). No início de 2025 assumiu o cargo de coordenadora da USNA/CGTP-IN. É ainda membro da Comissão Concelhia de Elvas do PCP e da DORPOR, a organização regional de Portalegre do Partido Comunista.

Com mais de metade da sua vida passada na cidade fronteiriça, Ana Albergaria tem os pés bem assentes no território e os olhos atentos à paisagem deslumbrante que a encanta, mas também às carências que impedem a região de alcançar maior fulgor. Ainda que não tenha uma “grande experiência na vida política partidária” aceitou o convite feito pela CDU para liderar a candidatura comunista à Câmara Municipal de Elvas. Confessa que “foi necessário reunir muita coragem para aceitar este desafio”, e justifica o passo em frente na “necessidade de haver alguma mudança”, que se junta à “vontade de ajudar a cidade e os elvenses que tão bem me acolheram. Estou aqui há 27 anos e entendo que posso contribuir para a evolução do concelho”. Ana apresenta como valor acrescentado o “conhecimento aprofundado das empresas da região” resultante do trabalho que desenvolve como coordenadora da União dos Sindicatos do Norte-Alentejano”. O know-how a esse nível faz-se acompanhar de uma diversidade de competências, ideias e propostas que dão consistência à candidatura às Eleições Autárquicas do próximo dia 12. A CDU, coligação que integra o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista “Os Verdes”, além de apresentar Ana Albergaria como candidata à presidência da Câmara Municipal de Elvas” propõe Ana Cristina Conceição para presidente da Assembleia Municipal. Concorre a todas as juntas de freguesia.

“A fixação de jovens e a criação de postos de trabalho”, está no topo das prioridades da CDU, e é na persecução desses dois objetivos que Ana Albergaria irá orientar o trabalho dos próximos quatros anos, caso venha a ser a escolha número um dos elvenses no próximo dia 12. A mais jovem dos cinco candidatos ao cargo de presidente da Câmara Municipal de Elvas, tem bem claro que é um caminho que se faz por etapas, com vários obstáculos difíceis de ultrapassar. O primeiro é a eleição. Ana sabe que mede forças com o poder instalado em Elvas há mais de três décadas e também com o “fenómeno” CHEGA em constante plano inclinado, no sentido ascendente. Ainda assim, para já, nada a demove de estruturar um projeto consistente, que carece “de ajustes sistemáticos, porque não faz sentido criar um programa fechado. Não sabemos o que vai acontecer amanhã, temos de ter uma intervenção moldável. Mas não é só isso. Embora tenhamos a grande ambição de fixar e atrair jovens, é necessário trabalhar tudo o que isso envolve”. A candidata da CDU detalha o raciocínio: “o desafio que aceitamos e com o qual nos comprometemos, é realmente cumprir todos os requisitos necessários para chegar a esse aumento. Mas não conseguimos aumentar os postos de trabalho, a fixação dos jovens, nem aumentar a implantação de empresas no nosso concelho se não houver transportes, se não houver uma maternidade aberta, se os serviços públicos não funcionarem. Para alcançarmos o objetivo final, é necessário ‘atacar’ tudo isto”.

Área Social: “Todos devem ser tratados de forma igual, sejam quem forem”

A área social não escapa ao projeto eleitoral da CDU que manifesta a intenção de manter os programas em curso no município, reforçando princípios de igualdade e justiça no acesso aos apoios.
“Na área social, aquilo que defendemos é um tratamento igual para todos. Queremos garantir que todas as pessoas da nossa cidade são tratadas da mesma forma, sejam elas quem forem, tenham as dificuldades que tiverem”, afirma. Esclarece que não está a insinuar que os atuais critérios sejam discriminatórios. “Não considero que esteja a haver discriminação, mas reforço que temos de ajudar todos da mesma forma. São habitantes da cidade, são todos iguais, todos por igual.”

Sobre áreas específicas como os apoios a estudantes, idosos ou a comparticipação de medicação, defende que o critério deve continuar a ser o da necessidade. “Acredito que, nas sociedades em geral, quem tem mais dificuldades necessita, obviamente, de uma ajuda superior. Não quer dizer que os outros não precisem, mas os apoios devem ser ajustados consoante as necessidades de cada um.”

Em relação ao apoio aos bolseiros, a candidata põe o dedo na ferida, o trabalho socialmente útil que está a ser exigido em troca da bolsa, e assegura: “As bolsas serão para manter, mas não concordamos com o modelo atual em que os bolseiros têm de trabalhar para as receber. Se alguém tem direito à bolsa, deve recebê-la. Não tem que estar a trabalhar em troca disso”, defende, acrescentando que acredita mais na motivação do que na obrigação.
“Se a prestação de algum serviço for uma opção e não uma imposição, acredito que muitas pessoas o farão na mesma. Sempre que sentimos que algo é obrigatório, há uma resistência natural. Mas se for uma escolha, até acabamos por fazê-lo, porque quem corre por gosto não cansa.”

Saúde em Elvas: “Não queremos começar a casa pelo telhado. Primeiro, é preciso criar condições”

Ana Albergaria entende que o município deve dar passos consistentes para ajudar a resolver as principais lacunas na área da saúde, especialmente a falta de médicos e enfermeiros, garantindo condições de base para atrair e fixar profissionais.
“Nós defendemos que tudo aquilo que são conquistas de Abril. O direito à saúde, à habitação, ao trabalho deve ser público. E, por isso, acreditamos que é necessário criar incentivos para atrair médicos e enfermeiros para Elvas”, sublinha. “Quando falo de jovens, incluo também os profissionais de saúde. Só vamos conseguir trazer mais médicos se lhes dermos condições para aqui viverem e trabalharem.”
Indica algumas dessas condições como sendo da responsabilidade direta ou indireta da autarquia. “A câmara pode, por exemplo, disponibilizar alojamento durante os primeiros meses ou até durante o primeiro ano. Pode ajudar no transporte, melhorar acessibilidades… São muitas coisas, mas todas têm a ver com qualidade de vida.”

Dando exemplos concretos, aponta para limitações práticas que podem afastar novos profissionais. “Nem todos os médicos ou enfermeiros têm carta de condução ou carro no início da carreira. Se as estradas não estiverem em condições, se os acessos forem complicados, se a pessoa optar por viver numa freguesia e não tiver transporte, simplesmente não consegue. E isso aplica-se a todos: aos médicos, aos jovens e aos idosos.”

Conclui reforçando: “Podemos prometer mil coisas, mas não queremos começar a casa pelo telhado. Primeiro, é preciso garantir o essencial. Criar condições reais, concretas, para que as pessoas queiram e consigam ficar. Só assim será possível atrair e fixar profissionais de saúde em Elvas.”

“Não basta atrair empresas, é preciso que deem condições aos trabalhadores”

Com experiência como militante sindical e forte ligação às questões laborais, a candidata da CDU defende que a atração e fixação de empresas em Elvas deve ser uma prioridade estratégica, mas com critérios bem definidos. Mais do que trazer investimento, diz Ana Albergaria, ” importa garantir que esse investimento se traduz em trabalho digno e condições adequadas para os trabalhadores locais. É necessário recorrer a todos os apoios que existam a nível nacional, e também a nível da região transfronteiriça, para cativar empresas para se instalarem em Elvas”, começa por defender. “Mas não pode ser qualquer empresa. Não é suficiente trazer empresas que depois não ofereçam condições de trabalho, porque as pessoas daqui não têm muita oferta de emprego e, por isso, são extremamente dedicadas àquilo que fazem.”

Depois alerta para a volatilidade de investimentos que não garantem estabilidade. “Não queremos empresas que chegam, instalam-se e sabemos à partida que ao fim de cinco ou seis anos podem ir embora. Ou empresas que pagam apenas o salário mínimo. É importante trazer empresas, sim, mas empresas que respeitem e valorizem os seus trabalhadores.”

Questionada sobre que tipo de empresas poderiam ser mais adequadas para o concelho, reconhece o desafio de equilibrar a qualificação da mão-de-obra local com as exigências do mercado. “Há quem diga que falta mão-de-obra qualificada, mas não concordo. Temos jovens licenciados (professores, biólogos) a trabalhar em funções fora da sua área de formação. Estão ali porque é o que há, não porque é o que querem.” Essa situação, diz, cria um ciclo de estagnação. “Os jovens querem ficar perto das famílias, encontram um trabalho e agarram-se a ele como uma tábua de salvação. Mas ficam ali, presos, muitas vezes em situações precárias. Um trabalhador ser efetivo numa empresa de trabalho temporário é um contrassenso.” Além disso, aponta práticas empresariais que considera desrespeitosas, mesmo sem serem ilegais. “Há ações menos corretas por parte de algumas empresas que induzem os trabalhadores em erro. E eles sabem disso, mas fazem o trabalho porque querem cumprir , porque sabem que não há mais opções. Isso é uma forma de exploração.” Na sua visão, a atração de empresas não pode acontecer de forma passiva. “Não podemos ficar à entrada da A6 a ver os negócios passarem para Espanha. Temos a Eurocidade – Elvas, Badajoz e Campo Maior – e ela não pode servir só para ficar a ver passar oportunidades.”

Sobre os incentivos concretos, lembra que “já existem apoios do governo para empresas que se fixem no interior”. Contudo, sublinha que é necessário fazer mais. “Temos que aprofundar o que podemos oferecer e como. Há várias formas de o fazer, se houver vontade política. Se não for uma preocupação principal, essas propostas ficam penduradas e ninguém lhes pega.”

Habitação: a aposta no rendimento acessível e na reabilitação de edifícios do centro histórico

Questionada sobre propostas concretas ao nível da habitação, Ana Albergaria foi clara: “Aquilo que nós defendemos é o arrendamento acessível. Sempre. Porque neste momento é extremamente difícil, comprar”. Considera que a situação atual do mercado imobiliário é insustentável: “Estamos aqui num beco sem saída, porque quer no mercado do arrendamento, quer no mercado de compra e venda, é completamente inacessível à população. Os valores são uma loucura. Se eu tivesse de arrendar, mesmo que fosse um T1, pelo valor que pedem aos dias de hoje, seria extremamente difícil fazer a gestão do orçamento familiar.”

Apesar de, em muitos casos, o crédito à habitação apresentar prestações mais baixas do que as rendas praticadas, essa também não é uma solução fácil, alerta: “Como é que se tem acesso ao crédito à habitação? Se os trabalhos são precários, se não há contratos efetivos… ou mesmo havendo, se forem através de empresas de trabalho temporário, os bancos também analisam isso. E, se calhar, não é assim tão bom.” Isto é a pescadinha de rabo na boca. Andamos aqui e não conseguimos sair do sítio.” Ainda assim, reafirma a necessidade de investir “no arrendamento acessível, para fixação de pessoas (jovens e não jovens) e também para atrair casais com família já constituída para a nossa região. Faz falta.”

Atenta ao património predial do centro histórico de Elvas e à importância de salvaguardar a classificação de Património Mundial, entende que “é necessário, como tem sido feito até agora, recuperar edifícios, e também construir menos fora da cidade, para ocupar aquilo que temos dentro da cidade. Em vez de se andar sempre a construir para fazer isto, construir para fazer aquilo… É reutilizar o que já existe.”

Quando questionada sobre o papel dos proprietários privados na conservação destes bens, afirma que “devia haver apoios e até incentivos”, e propõe que a Câmara Municipal colabore diretamente com os proprietários, inclusive assumindo parte do acompanhamento das obras. “Ser a própria Câmara a dar este apoio ao proprietário, haver obviamente um projeto, e, junto dos interessados, ver a possibilidade de recuperação, para arrendamento ou para venda. Fazer um acompanhamento mais personalizado porque os casos, os exemplos não são todos iguais.”

Educação: Investir na melhoria de todas as escolas do concelho

Na área da educação, Ana Albergaria considera que, embora as autarquias tenham novas competências, “não deveriam ter ficado com este encargo. Segundo a nossa visão, os municípios assumiram responsabilidades num setor que não dominam”. Aproveita para salientar que “as câmaras não podem ser o maior empregador de uma cidade, porque quando isso acontece alguma coisa não está correta. A Câmara não é uma empresa”.

No plano prático, aponta problemas concretos nas escolas: “Houve casos de escolas em Elvas em que as crianças não tinham condições para estar a estudar, porque os edifícios estão degradados e não têm ar condicionado nem aquecimento. Isso suscita preocupação.” Defende que não basta o mínimo, “tem de haver o máximo de condições, porque estas crianças, estes alunos são o nosso futuro” E insiste que todas as escolas devem ser melhoradas e equipadas para que os alunos beneficiem dos melhores contextos de aprendizagem.

Além disso, acredita que Elvas deve continuar a investir na melhoria de todas as escolas do concelho, “tratando todos por igual” Para a candidata “educação, saúde e infraestruturas essenciais são problemas de base, necessários para crescer. Precisamos de escolas com condições, precisamos do centro de saúde com condições e com médicos, do hospital com condições e com médicos. Precisamos, novamente, da maternidade, pediatria e obstetrícia no hospital… sem estas questões resolvidas não conseguimos crescer.”

Turismo: “Elvas é Património Mundial, isso é uma vantagem, mas não basta”

Ao nível do turismo a cabeça de lista da CDU à Câmara de Elvas propõe “uma abordagem mais estratégica, com um plano claro para turismo rural e cultural, com circuitos pedestres identificados fora do centro histórico, para mostrar também Barbacena, Ajuda e outras zonas menos conhecidas”.
Sobre a promoção no estrangeiro, acredita que é essencial um “refresh” nos métodos: “Elvas é Património Mundial, isso é uma vantagem, mas não basta. Hoje já não chegamos às pessoas só com folhetos: temos de usar redes sociais, digital, conteúdos visuais modernos.”

Na sua visão, o valor de Elvas reside em si mesma: “Elvas vale pela história, pelo património, não precisa de depender de nomes ou projetos externos”. Como exemplos concretos já em curso, menciona iniciativas “que ligam cultura, literatura e defesa militar”, e diz que há que “consolidar essas rotas, garantir boa sinalização, experiências enriquecidas e visibilidade externa”.

Segurança: “Elvas não é uma cidade assim tão insegura.”

Ana Albergaria entende que a segurança é uma preocupação atual, mas afirma não ter propostas concretas nesta área, justificando que “Elvas não é uma cidade assim tão insegura.” Reconhece que existem algumas situações pontuais, “mais ligadas à ordem pública do que à segurança propriamente dita”. Por isso, defende o reforço do número de agentes da PSP e da GNR como principal medida, destacando a importância do diálogo com essas entidades.

Partilhando a sua experiência pessoal, afirma: “Vivo cá há 27 anos e nunca tive problemas.” Embora reconheça que há relatos e receios, considera que Elvas continua a ser segura. “O simples passar da polícia já transmite uma sensação de segurança,” conclui, reforçando que não vê necessidade de propostas específicas por não considerar Elvas um local problemático.

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