A técnica administrativa sénior Cristina Mouril, de 58 anos, é a cabeça de lista do Chega à Câmara Municipal de Campo Maior nas eleições autárquicas de 12 de Outubro.
Trata-se da sua primeira candidatura a um cargo político de relevo e a aposta surge, segundo a própria, da vontade de dar voz a uma população que considera esquecida.
Ao apresentar-se, afirma que concorre ao Município com o “objectivo de corresponder às preocupações reais” dos campomaiorenses, salientando em especial a habitação e a segurança.
“Quero também fixar os jovens à terra e dar, se possível, condições às empresas que se queiram instalar em Campo Maior, uma vez que estamos a ‘dois passos’ da fronteira e penso que isso é uma mais-valia para as empresas que fazem exportação e importação de materiais”, sublinha.
Candidatura e motivações
A candidata explica que a decisão de avançar resultou de uma análise atenta aos problemas do concelho.
“O que me levou a candidatar é que eu vi que há vários problemas em Campo Maior, que eu, em três anos, já os identifiquei, a nível de segurança, a nível de habitação e acção social. Há pessoas que vivem em habitações em péssimo estado e algumas delas acho que pertencem à Autarquia. Os jovens querem sair de Campo Maior porque não há futuro no concelho. Portanto, tentar que os jovens fiquem em Campo Maior e trazer mais empresas e investimento, porque Campo Maior está a dois passos da fronteira. Para empresas que façam importação e exportação, é muito bom. Tenho andado pelas estradas camarárias, que estão altamente degradadas. Como vivo em Degolados, sei que em Degolados há muitos problemas, porque está afastado do centro de Campo Maior. Degolados e Ouguela, como estão a sete e a dez quilómetros, são um bocadinho esquecidos. Basicamente, é tentar ajudar a população e, dentro das minhas possibilidades, tentar melhorar Campo Maior. Há 50 anos que está o Partido Socialista e é o que se vê”, refere.

A continuidade socialista no poder local é, para Cristina Mouril, um sinal de estagnação, que pretende combater com novas ideias e propostas.
A candidata garante que está preparada para dar um novo rumo ao concelho.
Prioridades
No programa eleitoral que irá apresentar, Cristina Mouril identifica algumas áreas principais. “Eu penso que a segurança e a habitação devem ser prioritárias, assim como a acção social, ou seja, ver o que é que as pessoas precisam. Mas ver mesmo, não é as pessoas irem à Câmara e fazer pedidos e aquilo demorar montes de tempo para as coisas serem aprovadas e serem vistas. Coisas que, se calhar, podem ser vistas numa semana ou em duas, levam meses a ver. É estar junto à população”, afirma.
A candidata sustenta que a ligação directa às pessoas será a sua forma de trabalhar. Na sua opinião, é fundamental simplificar processos, responder de forma rápida e evitar a burocracia que, muitas vezes, trava as soluções que os cidadãos procuram.
Segurança e habitação
A segurança é um dos pontos que mais a preocupa. Cristina Mouril considera que este é um trabalho a desenvolver em articulação com as forças policiais. “É uma coisa a ver com a parte policial, com a GNR de Campo Maior. Ver o que é que poderia ser feito. Acho que já está aprovada, não tenho a certeza se já foi adjudicada ou não, a videovigilância para as zonas mais problemáticas. Também há casos de violência nas escolas. Isso seria igualmente uma coisa a ver com a GNR, ou seja, o que é que pode ser feito no terreno para resolver isso. Não sei se nas escolas se pode pôr videovigilância, mas alguma coisa terá de ser feita”, sublinha.
No que toca à habitação, a candidata critica a postura da Autarquia, defendendo que esta deve dar o exemplo. “Eu sei que há pessoas que vivem em casas que pertencem ao Município e que estão completamente degradadas. E as pessoas pagam renda… Quer dizer… O Município devia dar o exemplo e recuperar as casas que são dele. A Autarquia não pode exigir aos senhorios que recuperem as casas quando ela não o faz. Isso devia ser resolvido, porque a Autarquia é proprietária e não pode exigir aos outros proprietários que façam aquilo que ela não faz”, vinca.
Educação e competências municipais
Um dos temas centrais na política local é a educação, sobretudo desde que muitas competências passaram a estar sob responsabilidade das autarquias. Para Cristina Mouril, esta foi uma decisão positiva. “Quem está no terreno, que é a Autarquia, é que sabe o que é que se passa. Como se costuma dizer, quem está dentro do convento é que sabe o que é que se passa lá dentro. Acho que sim, que foi uma medida acertada, porque a Autarquia está junto à população e sabe o que é que se passa, sabe os problemas, sabe identificar as crianças, se vêm de famílias destruturadas, se não vêm…”, afirma.
Ainda assim, admite que os efeitos dessa mudança não são imediatos. “Eu acho que ainda é capaz de estar numa fase de adaptação, porque as coisas todas não se resolvem de um dia para o outro. O meu objectivo é ganhar, mas, caso não possa ganhar, ao menos que os campomaiorenses me dêem uma hipótese de estar na Câmara para ver o que é que se passa e o que é que é feito”, diz.
Centro Histórico e casas devolutas
O coração de Campo Maior, marcado pelo seu Centro Histórico, não escapa às críticas da candidata. “Há muitas casas devolutas e as autarquias têm vários mecanismos para tratar disso. Muitas casas devolutas também prejudicam os vizinhos que estão ao lado, com infiltrações de água e isso tudo. Acho que a Câmara não tem feito nada por isso, mas pode ser feito. Pode-se tentar recuperar as casas e alugá-las depois. Em Degolados há casas devolutas que não têm herdeiros. Estão ali num limbo, não têm herdeiros, a Autarquia também não faz nada e, muitas delas, estão a prejudicar terceiros. É uma situação para ver com o gabinete jurídico da Câmara. Não sou jurista, mas sei que há vários mecanismos para as autarquias tomarem conta dessas casas. A Autarquia tem de ser mais interventiva nesse aspecto. Acho que até pode aumentar o IMI das casas devolutas”, sugere.
Turismo e desenvolvimento económico
Para Cristina Mouril, Campo Maior tem potencial turístico, mas falta capacidade de resposta em termos de alojamento. “O turismo pode ser chamado a Campo Maior. Agora é assim: se amanhã vierem mil turistas a Campo Maior, onde é que ficam? O Parque de Campismo que havia, já não há. Mas também podem ser turistas que não sejam de parque de campismo. É tentar, por exemplo, que algum grupo hoteleiro venha para Campo Maior. Trazer empresas para Campo Maior até pode ser um grupo hoteleiro. É que se hoje entrassem mil turistas em Campo Maior e quisessem pernoitar, não conseguiam. A oferta em termos de alojamentos turísticos está reduzida”, lamenta.

E acrescenta: “Há alguns turismos rurais, há uma pensão na zona do Jardim, mas não conseguem albergar um grande número de turistas. Eu falei em mil, mas vamos falar em 500. Se quiserem pernoitar 500 pessoas em Campo Maior, não conseguem. Acho que também não há Airbnb em Campo Maior, por isso… Trazer turistas é bom, mas também temos de lhes dar condições. A primeira medida para implementar o turismo é ter um hotel, Airbnb ou qualquer coisa onde os turistas possam pernoitar. Havia o Parque de Campismo, como disse, que foi fechado. Mas mesmo que houvesse o Parque de Campismo, há turistas que não são de parques de campismo. Campo Maior até tem oferta turística, mas depois não tem condições de logística para albergar os turistas”, constata.
No plano económico, Cristina Mouril defende que a Câmara deve criar condições para atrair investidores. “Como já disse, falar, por exemplo, com um grupo hoteleiro que queira dar condições. Dar a licença logo é uma das coisas que eles precisam. A parte burocrática tem de ser facilitada para se poderem instalar”, frisa.
Festas do Povo e identidade local
As Festas do Povo, celebradas com flores de papel e reconhecidas pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, são uma das marcas de Campo Maior. O último evento realizou-se há uma década e está prevista uma nova edição em 2026. Sobre esta possibilidade, Cristina Mouril manifesta respeito pela tradição.
“Eu sei que isso é um assunto muito querido para os campomaiorenses. Eu nunca fiz flores, mas sei que dá um trabalho imenso e valorizo bastante as senhoras que passam horas a fazer flores. Se eu for eleita e se me disserem que sim, que conseguem a nível logístico e de organização, eu estou disposta a fazer. Agora, se me disserem que é curto o tempo, porque as festas costumam ser feitas em finais de Agosto e princípios de Setembro… Começarem em Janeiro a fazer, é possível? Há que ver com a Associação das Festas. Se me disserem que é possível, a nível logístico, tratar de tudo, fazer flores e ver as ruas que querem aderir, tudo bem. Se não conseguirmos, para fazer coisas em cima do joelho só para dizer que se faz, eu também não sou apologista de fazer coisas em cima do joelho. Para dizer que fazemos festas e depois dizerem que foram fraquinhas porque não tivemos tempo, não. Assim é melhor fazermos em 2027 uma coisa em grande. Eu não gosto de trabalhar em cima do joelho, nem gosto de estar a navegar à vista”, explica.
Sobre o papel da Autarquia na organização do evento, a candidata insiste na necessidade de cooperação. “Eu, se for para a Câmara Municipal, se me sentar lá na cadeira, preciso da ajuda de toda a gente. Não posso fazer tudo sozinha, nem sei fazer tudo sozinha. As pessoas que lá estão têm de ter a humildade suficiente para dizer: ‘Eu não sei fazer tudo sozinha. Vocês estão dentro das festas, ajudem-me’. O que é que podem fazer? Conseguem fazer para o ano? Eu não vou dizer assim: ‘Vamos fazer para o ano’. Depois, aquilo fica tudo mal feito e dizem: ‘Ela quis fazer em 2026’. Não. Eu preciso da ajuda de toda a gente, em especial da população de Campo Maior. Se for eleita, não serei presidente de estar sentada no gabinete. Quero falar com as pessoas e saber quais são as dificuldades reais, porque, muitas vezes, são tomadas decisões nos gabinetes que as pessoas nem concordam. Mas porque é que foram fazer aquilo? Tem de se falar com as pessoas. Com as pessoas que sabem. Por exemplo, as pessoas da Associação das Festas é que percebem das festas. Sabem se é viável, se não é viável, quantas ruas é que estão interessadas… Eu, quando for para lá, preciso da ajuda de todos”, reconhece.
Futuro político e coligações
Embora o objectivo seja vencer, a candidata não fecha totalmente a porta a outras soluções. “Isso ainda não foi falado a nível de partido. Ainda é cedo para pensar em coligações. O objectivo é mesmo vencer. E se não conseguir vencer, ao menos que os campomaiorenses me dêem a oportunidade de eu fiscalizar alguma coisa que se passe lá dentro”, conclui.
Com esta candidatura, Cristina Mouril apresenta-se como alternativa à continuidade socialista em Campo Maior, propondo soluções para áreas que considera centrais: segurança, habitação, educação, turismo e valorização do património cultural.
O seu discurso insiste na proximidade com a população, na necessidade de respostas rápidas e na ambição de dar um novo rumo ao concelho raiano.
Perfil
Cristina Mouril, de 58 anos, é natural de Lisboa, mas desde cedo manteve uma ligação estreita a Campo Maior e, em particular, à freguesia de Degolados.
As raízes familiares explicam essa relação: do lado materno, a família é originária de Degolados, enquanto do lado paterno a ligação estende-se a Barbacena e Santa Eulália, no concelho de Elvas.
Apesar de ter nascido na capital, Cristina Mouril sempre preservou os laços que a ligam a esta região, sendo que, há três anos, fixou mesmo residência em Degolados, onde hoje vive em permanência.
Formada e com carreira como técnica administrativa sénior, função que actualmente não exerce, apresenta-se agora ao eleitorado com uma nova faceta: a de candidata autárquica.
O percurso pessoal e profissional, aliado ao contacto próximo com a realidade local, serve de base ao discurso de proximidade que defende para Campo Maior.
Na vila raiana, o partido Chega apenas concorre à Câmara Municipal. Para além de Cristina Mouril, a lista é ainda composta por Manuel Filipe Justina Rodrigues (engenheiro civil), Luís Manuel Marques Barrigola (técnico administrativo), Beatriz Alexandra Coelho Militão (coordenadora de vendas), Ricardo Jorge Amiguinho Cordeiro (técnico administrativo), Célia Sofia Carrilho Ruas (doméstica) e Rúben Adelino Carrilho Ruas (curso profissional de técnico de turismo ambiental e rural).
