Arronches converteu-se numa localidade apaixonante! A magnífica vila do distrito de Portalegre tem sabido afirmar-se de forma sóbria. Encanta pela sua serena beleza, de maquilhagem simples, com o casario meticulosamente  cuidado, inserido num espaço público acolhedor.  

Depois, tem um mantra gastronómico. Uma qualquer vibração cósmica fez ali nascer vários restaurantes de notável qualidade. Não sei se é de mim, ou se é geral, mas se me perguntarem se gosto mais deste ou daquele restaurante de Arronches é como se me estivessem a lançar a questão lapidar: “gostas mais do pai ou da mãe?” 

Não é que os conheça todos, mas aqueles que já provei (literal e metaforicamente falando), voltaria a provar, a repetir e a recomendar. É claro que se houver quem faça  muita questão de me levar a eleger o que mais me incendiou os sentidos, vou pelo critério da transversalidade e dou nota 10…. ao restaurante “A Cabana”, acabadinho de descobrir.

Desde logo “A Cabana” pontuou pelo acolhimento do Chef Luís Figueira, que nos recebeu num dia improvável. Foi com surpresa que ouvi um “Sim” imediato à suplica que lhe lancei em tom dramático-persuasivo. Fisgada em lá ir, depois de me ter banqueteado com as fotos do espaço e das iguarias na internet,  ciente de que haveria um por cento de probabilidade de conseguir reserva para um sábado à noite, estando a telefonar nesse mesmo sábado à tarde, interpelei do lado de cá da linha: “preciso de um SIM à necessidade que tenho de ir jantar hoje ao seu restaurante. Somos só duas pessoas”. “SIM”, envie-me só mensagem com o nome e a hora” respondeu o Chef. Com um contentamento infantil, descontei para as 20h30. À hora em ponto, atravessei a soleira da porta do restaurante e comecei por descobrir o porquê da nomenclatura.

De construção e decoração rústica, com teto inclinado, paredes de pedra, a fazer jus ao nome, para mim “A Cabana” chama-se assim não só pelo cenário, mas pelo espírito que transmite de porto de abrigo ocasional ou permanente. Digo permanente porque é fácil, facílimo, tornarmo-nos clientes habituais, por tudo o que ali se passa: ambiente, conversa e o regalo palatino.

Vestido com uma jaleca negra, Luís Figueira acomoda os clientes e depois anda de mesa em mesa a explicar a ementa, que está escrita a giz numa ardósia incrustada na parede, junto a uma janela. No nosso caso não foi necessário enumerar todas as opções disponíveis. Bastou ouvir “Wellington de Bacalhau” e a decisão foi tomada. Enquanto confecionava o prato que mistura a tradição portuguesa do bacalhau com a sofisticação da culinária francesa, feito com o peixe fresco, o que lhe dá um sabor e uma consistência fenomenais, o Chef começou por nos oferecer um surpreendente aproveitamento da pele do bacalhau, convertida numa espécie de courato. Até à chegada do protagonista, servido numa travessa em forma de peixe, acompanhado de umas batatas magníficas,  Luís Figueira visitou-nos várias vezes e ainda nos saciou a curiosidade sobre a tradição secular dos tocadores de pedrinhas de Arronches, sendo ele próprio um exímio executante, com o privilégio de o ver demonstrar como se extrai música das pedras recolhidas na ribeira que atravessa a vila.

Por isto e outras coisas mais  que aconteceram durante umas duas horas e meia, é fácil entranhar o carisma do restaurante “A Cabana”, em Arronches. O que é mais difícil, para não dizer improvável  é não ficar a pensar em arranjar maneira de lá voltar. Até para ver se existe algum prato capaz de destronar o delicioso  “Wellington de Bacalhau”.

O Restaurante “A Cabana! fica na Rua de Olivença  nº 20, em Arronches. Está aberto até às 2h00 e encerra à terça-feira.

Carregar mais artigos relacionados
Carregar mais artigos por Arlete Calais
Carregar mais artigos em Actual

Veja também

Rute e Mário: uma amizade que se tornou viral

Há uma história enternecedora que está a dar a volta ao mundo através das redes sociais: a…