Barbacena despediu-se de Manuel Joaquim Carvalho Catalão. Terminou aos 81 anos o percurso de vida de um homem que foi figura de referência ao longo das últimas décadas naquela freguesia rural de Elvas.

Manuel Catalão fica para a posteridade como um dos autarcas locais mais destacados do nosso concelho em meio século de democracia em Portugal. Em 1975, nas primeiras eleições autárquicas após o 25 de Abril de 74, foi eleito para a Assembleia de Freguesia de Barbacena pelo Partido Comunista Português, a força política a que sempre pertenceu.

Quatro anos depois, em 1979, era eleito presidente da Junta de Freguesia, à frente da candidatura da Aliança Povo Unido, a coligação então formada pelo PCP e pelo MDP/CDE. Começava aí um ciclo de 12 anos e três mandatos consecutivos à frente da autarquia barbacenense, os últimos dos quais representando a Coligação Democrática Unitária (CDU), a sucessora da APU que ainda hoje junta o Partido Comunista e o Partido Ecologista “Os Verdes”.

Na vigência dos seus mandatos como presidente de Junta foi também deputado à Assembleia Municipal de Elvas. Todavia, a entrega de Manuel Catalão à sua terra não se circunscreveu ao exercício da política, já que presidiu em diferentes períodos à Casa do Povo de Barbacena e ao Clube de Futebol “Frente Leste”.

O Mané Quim, como era popularmente conhecido entre as suas gentes, foi um homem de firmes convicções, mas, acima de tudo, com uma filosofia de vida que tornava fácil conquistar amigos em todos os quadrantes políticos e sociais. Podia-se concordar ou não com os seus ideais, mas é certo que era homem que prezava as boas amizades acima de tudo o mais.

Tive o privilégio de privar com Manuel Catalão em contextos e momentos distintos. Assim aconteceu quando o entrevistei por diversas ocasiões para a saudosa RDP Elvas, mas também muitas mais vezes sendo eu visita regular da família Vinagre Botelho Neves no Pomar das Laranjeiras, propriedade de Barbacena onde ele era responsável pela vertente agrícola.

Foi através desse contacto regular e prolongado no tempo que pude perceber a valia de alguém que, independentemente das arreigadas crenças, estava à-vontade em qualquer lugar e não deixava ninguém indiferente. Fosse junto dos camaradas ou de pessoas que se posicionavam bem mais à direita do seu espectro político-partidário a que pertencia.

Mas não foi apenas pelos dotes oratórios e laborais que Manuel Catalão se evidenciou. A escrita foi outro dom que desenvolveu ao longo da sua preenchida existência e o Linhas de Elvas foi, aliás, um dos veículos através dos quais deu a conhecer as reflexões em prosa ou poesia.

Soube, aliás, que há poucas semanas, estando ele hospitalizado em Elvas, pediu a uma das filhas para entregar um texto na redacção do jornal. Talvez já intuísse que seria a última vez que a sua opinião ganharia visibilidade pública.

Era tudo isto – e muito mais que aqui não cabe – o Homem que agora nos deixou fisicamente, mas cuja memória irá perdurar na sua Barbacena natal e igualmente no concelho de Elvas. Atrevo-me, por isso, a sugerir que seja atribuído o nome de Manuel Joaquim Carvalho Catalão a uma rua da sua tão amada freguesia.

À mulher Catarina e às filhas Fátima e Júlia deixo a minha palavra de conforto nesta hora em que se despediram de um marido e pai exemplar. Um Homem com H bem grande, de quem se podem orgulhar.

Descanse em paz, Sr. Catalão. Até um dia, amigo Mané Quim!

Artigo publicado na edição impressa de 20 de Março

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