No Bloco Operatório do Hospital de Santa Luzia de Elvas (HSLE) foram realizadas, pela primeira vez, dois tipos de cirurgias de carácter relativamente inovador em instituições do SNS. Trata-se de uma técnica denominada Termoablação Percutânea, no caso concreto, da mama e da tiroide.
A Termoablação Percutanea é uma técnica minimamente invasiva que permite tratar nódulos. Neste tratamento, com recurso a controlo ecográfico, é colocada através da pele, uma antena de termoablação (“agulha especial”) que irá tratar a lesão recorrendo a métodos térmicos como micro-ondas (“queimar” a lesão), condicionando significativa redução do seu volume. Com o uso da Termoablação prevê-se uma redução do volume em mais de 50% ate´ aos 6 meses e que pode ser inclusive próxima dos 80% após um ano.

Trata-se de um procedimento realizado em ambulatório que demora cerca de 30 minutos. Não necessita de anestesia geral ficando a pessoa acordada, mas é fornecida medicação de modo a que seja praticamente indolor. Cerca de uma hora após o procedimento o doente pode ter alta para o domicílio, sem restrições significativas, podendo voltar à vida ativa no dia seguinte.
Entre as reconhecidas vantagens desta técnica estão pois a melhora ou resolução total dos sintomas estéticos e compressivos, o recurso unicamente a anestesia local, sem ocorrência de cicatrizes, internamentos ou necessidade de terapêuticas posteriores e com elevada redução das taxas de complicações deste tipo de cirurgias quando realizadas em regime de tratamento convencional.
Em Portugal a primeira intervenção recorrendo à técnica de ablação percutânea da tiroide por micro-ondas realizou-se no Hospital de Santa Maria em 2021.

A patologia nodular da tiroide é extremamente frequente na população mundial, estimando-se que esteja presente em cerca de 75% da população adulta, sendo mais prevalente no sexo feminino. Aproximadamente 5% dos nódulos têm um crescimento tão significativo que são detetados à palpação.
A avaliação ecográfica determina quais os nódulos com indicação para realização de biópsia com base na estratificação do risco e seu tamanho, sendo que menos de 5% são malignos. A larga maioria dos nódulos é assim de etiologia benigna e não causa sintomas. Existe, no entanto, um número não desprezível de nódulos que pela sua localização e/ou crescimento causam sintomas, sejam compressivos (sobretudo dificuldade em engolir, sensação de corpo estranho e rouquidão) ou estéticos (“papo no pescoço”).
No caso de nódulos benignos sintomáticos, o tratamento convencional é a cirurgia (tireoidectomia total ou parcial). Com o desenvolvimento das técnicas cirúrgicas estes procedimentos têm-se tornados menos invasivos, no entanto necessitam de Internamento, anestesia geral, não são isentos de complicações, deixam cicatriz e em grande parte dos casos exigem que o doente passe a tomar medicação para substituir a função tiroideia.

No HSLE foram agora realizadas quatro cirurgias (duas em utentes com patologia mamária e duas com patologia tiróidea). Estiveram envolvidas equipas multidisciplinares do Bloco Operatório, da Cirurgia Geral e da Radiologia de Intervenção do HSLE, sob a supervisão de dois médicos especialistas de hospitais de Madrid e de Granada que propositadamente para este efeito se deslocaram a Elvas.
Segundo o Dr. Miguel Angel, diretor do Departamento Cirúrgico da Unidade Local de Saúde do Alto Alentejo (ULSAALE) à qual o hospital elvense pertence, “foi o culminar de um trabalho conjunto da instituição, da equipa que veicula a técnica, do próprio equipamento e dos especialistas espanhóis que partilharam a sua vasta experiência e conhecimento da técnica. Estamos perante uma técnica muito promissora, possibilitada pelo avanço tecnológico, que se aplica a doentes selecionados de forma criteriosa”, acrescenta. Aquele clínico salientou ainda o sucesso das cirurgias realizadas, “na esperança que os utentes da ULSAALE possam no futuro usufruir da realização e vantagens deste tipo de técnicas inovadoras”.
