O despertador tocou.

Acordo, ainda meia estonteada, e com os olhos semicerrados procuro ansiosamente, na mesinha de cabeceira, o telemóvel. Depois, só depois de ver as novidades nas redes sociais, ligo a luz do quarto, essa agressividade matinal para a vista e, forçada pela consciência, verifico as horas. Logo de seguida, de forma muito repentina, ocorre-me que o dia tem mesmo de começar. Com o corpo pesado, a cabeça a latejar, os passos finalmente são dados para cumprir com a rotina diária.

Mas eis que o superpoder do café surge como salvador, não da pátria, mas da fadiga já há muito acumulada. O tempo parece correr depressa demais, mas sinto-me sempre um passo atrás na tentativa de encontrar organização no meio do caos.

É mesmo assim que vivemos, sempre a correr, com a mente a falar sozinha e agitada, em que os pensamentos se atropelam uns aos outros e a ansiedade… a ansiedade cola-se à pele como um penso ensanguentado, mas invisível.

Queremos respirar, encontrar uma pausa, um momento de alívio. Ligamos a televisão à procura de algo que nos aqueça a alma, que nos dê esperança, mas aquilo que vemos é o contrário. As imagens mostram cidades destruídas, pessoas em pânico, liberdades desrespeitadas, poder em benefício próprio e tantas, mas tantas atrocidades e crueldades…

Aquilo que sentimos é o mundo a ceder sob os nossos pés. Falta solidez ao chão que pisamos e falta solidez à humanidade a que pertencemos. Tudo parece frágil e quando a Terra treme, temos a confirmação que temíamos.

Chego ao final do dia, cansada, com o corpo pesado, a cabeça a latejar e com uma preocupação… a falta de solidez. Seja ela emocional ou terrestre. Sim, a Terra voltou a tremer. A vida tem tanto de anormal, como o vulcão em erupção inesperadamente no meio da neve, como a perfeição humana exigida no meio do caos e da incerteza, como o novo terramoto que parou e acelerou, em simultâneo, os batimentos cardíacos.

Antes que o despertador volte a tocar, durmo mais umas horas com a esperança de
que o novo dia traga lucidez e que a instabilidade, ainda que assustadora, seja
impulsionadora da evolução do bem.

Mas, ao que tudo indica, o despertador voltará a tocar, a falta de solidez passará a ser
o expectável e este ciclo será repetido indefinidamente.

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