Há pouco mais de uma semana, no dia 28 de Janeiro, o meu pai partiu para a eternidade. Chegaram ao fim 86 anos de uma vida preenchida e que, para mim, foi fonte de inspiração em diferentes facetas.
Hoje quero evocar António Vinagre pela prolongada dedicação à comunicação social elvense, mas também como correspondente de jornais desportivos nacionais. Foi um labor extra-profissional e em relação ao qual a palavra amador pode remeter também, de certa forma, para o acto de amar aquilo que se faz.
Remonta à segunda metade da década de 1970 a primeira memória que guardo do meu pai no contexto da comunicação. Foi ao serviço do saudoso Emissor Regional de Elvas, a partir de 1975, onde ele desempenhava as funções de noticiarista, nome que era dado aos colaboradores responsáveis por redigir os textos da informação diária.
É dessa época a fotografia que acompanha este texto, da autoria do falecido João Carpinteiro. Além do meu pai, frente à máquina de escrever, podemos ver a seu lado António Serra e, ao lado deste, o também já desaparecido Júlio Candeias.

Foi então que eu, com pouco mais de uma dezena de anos de vida, comecei a acompanhar o meu pai aos estúdios da Rua do Sineiro e lá nasceu o meu “bichinho” pela rádio. Recordo com nitidez aquele local que, entre muitas outras coisas, marcou o arranque de uma nova era da comunicação em Elvas.
A segunda passagem de António Vinagre pela rádio aconteceu alguns anos depois, no final da década de 1990, quando a posteriormente denominada RDP Rádio Elvas já tinha fechado as portas. Foi ao serviço da igualmente extinta Voz de Elvas da Rádio Renascença, novamente na redacção das notícias e como comentador desportivo.
Nessa altura não coincidimos porque eu estive na génese da actual Rádio Elvas e ele, apesar do convite que lhe foi endereçado, permaneceu fiel à emissora do Largo de S. Domingos. Confesso que senti alguma mágoa, mas compreendi e aceitei a sua decisão, que radicou principalmente no facto de ser homem de palavra e pela gratidão aos responsáveis da estrutura local da Emissora Católica Portuguesa, principalmente ao saudoso Joaquim Ventura Trindade.
Além destas incursões pela rádio, a imprensa escrita foi outra das áreas em que interveio aquele de quem hoje falo. Como aconteceu precisamente no nosso Linhas de Elvas onde, ao lado de António Massano Simões e do falecido Januário Jantarão, assegurou as páginas desportivas deste semanário.
O futebol, outra das paixões da sua vida, levou o meu pai a ser correspondente dos jornais desportivos Record e Gazeta dos Desportos, este último já desaparecido. Recordo as tardes em que, após os jogos de “O Elvas”, ele transmitia por telefone a ficha e as incidências dos mesmos, com chamadas que se eternizavam porque era preciso amiúde soletrar palavras e nomes de jogadores letra a letra.
Era assim António Joaquim Escarduça Vinagre, um homem de muitos atributos, ao qual agradeço – e reconheço – o papel que desempenhou na minha formação pessoal e profissional. Por isso, se na minha página de Facebook o evoquei no dia do seu falecimento sob o título “Adeus, Pai!”, hoje só posso terminar escrevendo: Obrigado, meu Pai! Por tudo.
Artigo publicado na edição impressa de 6 de Fevereiro
