Um quarto do vinho produzido no Alentejo não está a ser comercializado devido a “um problema internacional” no comércio, causando dificuldades no setor, alertou hoje o presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), Francisco Mateus.
O responsável, que falava hoje no parlamento durante uma audição conjunta sobre o setor vitivinícola no âmbito do grupo de trabalho criado na Comissão de Agricultura e Pescas, disse que a atual situação já fez “tocar as campainhas”.
“Temos tido um aumento gradual do volume que é comercializado, mas verificamos que, talvez desde um bocadinho antes de 2020, tem havido uma diminuição da quantidade de vinho que é levada para o mercado”, referiu.
Em média, segundo o presidente da CVRA, no período entre 2020 e 2024, por hectare de vinha existente na região alentejana, 37 hectolitros de vinho foram comercializados e 12 hectolitros não foram e ficaram em depósito.
“São 1.200 dos 5.000 litros que produzimos por hectare que não são comercializados”, ou seja, “um quarto da produção do Alentejo está nos armazéns e não está a ser comercializada”, assinalou.
Francisco Mateus salientou que “o Alentejo deixou de ter 85% ou 90% da sua produção a ser comercializada e, nos últimos cinco anos, esse rácio passou para 76%”, com consequências para o setor a nível nacional.
“Estamos a falar de uma região com um volume de produção significativo”, que este ano será de 112 milhões de litros, o que faz com que “o que acontece no Alentejo acabe por ter algum efeito no que se passa no setor a nível nacional”, sublinhou.
Uma das consequências apontadas pelo dirigente foi a necessidade de o Alentejo participar na destilação de crise, mas Francisco Mateus avisou não se pode estar constantemente a escoar vinho desta forma.
“O Alentejo destilou mais nos últimos cinco anos do que nos 30 anos anteriores. É uma situação que, como podem calcular, desagrada às pessoas que estão na região e desagrada à instituição que tem que assegurar essa gestão”, argumentou.
Observando que “sempre que a produção tem mais do que um ano com oscilações isso reflete-se no comércio”, o responsável realçou que a situação atual mostra que “tem que haver alguma relação entre os dois componentes”.
“Estamos a produzir demais ou a vender menos? Nem uma coisa nem outra. Temos a produção que queremos pelo aumento das áreas de vinha que temos determinado, mas há, de facto, um problema no comércio, mas não é português, é internacional”, disse.
Aludindo a dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), Francisco Mateus disse que “a curva do consumo de vinho a nível mundial mostra uma tendência de quebra desde 2017”.
“O comércio internacional de vinho tem tido um bom desempenho, mas também vemos que, nos últimos três anos, tem vindo a cair”, apontou, assinalando a existência de “campanhas anti-álcool” e de novos hábitos entre os jovens.
O presidente da CVRA defendeu que o setor tem “ir ao encontro dos mais jovens”, notando que o baixo consumo nestas faixas etárias tem também a ver com “estilos de vida mais saudáveis, pessoas mais preocupadas com o corpo e com a forma como se apresentam” e porque há “pessoas que optam, pura e simplesmente, por não beber álcool”.
O responsável defendeu que as comissões vitivinícolas devem ter mais autonomia para tomar decisões e propôs o reforço da fiscalização dos produtores a partir da análise de dados do Instituto da Vinha do Vinho (IVV) e da Autoridade Tributária (AT).

SM // RRL
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