Dá pena ver o homem de negócios de hoje. Na cidade, o economista, o gestor, o advogado, o
analista e o consultor parecem todos fardados de igual. Fato escuro, camisa branca e colarinho
aberto. AirPods nas orelhas, Apple Watch no pulso, o executivo moderno é tão escravo dos
aparelhos da Apple Inc. como o seu antecessor dos anos noventa o era das gravatas Hermès e dos
mocassins Gucci. Agora, gravatas nem vê-las, a imagem quer-se minimal, descontraída, jovem,
empreendedora, sem mordaças de seda ao pescoço. Quão longe vão os dias em que todos os
bolsos do fato cumpriam a sua função. Lenço, agenda, caneta, porta-chaves, carteira, porta-
moedas, cigarros, isqueiro e um tijolo de um telemóvel era os mínimos dos mínimos no alforge do
trabalhador. Hoje tudo se condensa num smartphone e uma máquina de cigarros electrónicos.
Que triste vida esta, sem os deleites de usar uma flor na lapela (proscrita, a menos que se trate de
cravo vermelho em certas efemérides anuais), de apontar compromissos no papel ou de fumar um
cigarro de verdade. O cigarro electrónico é, como os contraceptivos, uma metáfora do
modernismo: o prazer sem a consequência.
Que sentido tem um fato sem gravata? Os escritórios sem gravata, os bancos sem gravata, os
serviços públicos sem gravata, até no Parlamento já escasseia a gravata, é um país inteiro sem
gravata. E sem graveto, já agora. Dizem que é pelo calor, porque o uso de gravata implica um
maior consumo de ar condicionado, ao passo que o colarinho aberto suporta temperaturas mais
altas sem recurso à climatização. Mas o que não faltam para aí são justificações estapafúrdias para
comportamentos anormais, por isso não me fio muito neste argumento. Se assim é, como se
explica que no Inverno os anti-gravata andem todos de echarpe à volta do pescoço? Tudo menos
gravata, a gravata é opressora e classista. Se for um cachecol de 500 euros da Burberry’s, à la
Varoufakis, tudo bem. Gravata é que não.
Felizmente, ainda há quem combata estas trágicas tendências adoptando a postura precisamente
oposta. Rondão Almeida não é amigo do minimalismo indumentário. Pelo contrário, se há homem
que não se escusa em usar uma gravata em todas as circunstâncias da sua vida pública é ele.
Bravo, presidente. E quando o vemos, não é só o autarca que está vestido, é também o comendador.


Talvez imbuído ainda do espírito de aparato da coroação de Carlos III, Rondão Almeida orna-se da
regalia republicana com a mesma dedicação do soberano britânico. Vi há poucos dias que todas as
insígnias da Ordem do Infante D. Henrique – fita, placa, roseta e miniatura –, são usadas em
simultâneo, para que não haja dúvidas sobre os méritos do agraciado. Em Elvas não se peca por
defeito.

Artigo de Opinião publicado originalmente na edição impressa do jornal Linhas de Elvas nº 3721 de 18 de Maio de 2023

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