Achava que Janeiro era o mês da calmaria, da languidez depois dos tumultos natalícios, dos balanços e dos inventários e, enfim, de um enorme aborrecimento geral. Que Elvas só se despertaria dessa enorme ressaca social pelo 14 de Janeiro, sobressaltada com os tiros das salvas. Afinal não, este ano as Linhas de Elvas quase que se diluíam entre muitas outras linhas, mas daquelas escritas nas redes sociais. Infelizmente, este parece ser o campo de batalha predilecto para se fazer política a nível local. Tal como a música pimba, chega a muita gente mas dignifica pouco.

O antigo vereador Tiago Abreu ataca o executivo municipal pela falta de resultados na questão da água e aponta as incoerências nos discursos pré e pós eleições da vereadora Paula Calado. Paula Calado responde com um texto inflamado e uma fotografia de uma semiautomática Fostech Origin-12. Tiago Abreu riposta com novo texto e uma imagem de uma estufa. Noutra luta fratricida, os deputados do PS na Assembleia Municipal de Elvas abstiveram-se na votação sobre o novo prédio na Quinta dos Arcos e acusam o executivo de atrasar o arranque da obra por motivos eleitoralistas. Rondão Almeida chama o presidente do PS de Elvas (Bruno Mocinha) de ignorante e vaticina o fim do partido a nível local. Na mesma linha ofensiva, vem Rondão Almeida  enviar mensagens privadas à deputada municipal socialista Ana Rita Anjos. E esta, em retaliação, publica a captura de ecrã dessa intimidação e provoca alguma agitação virtual, com várias partilhas de utilizadores e um comunicado emitido pela Concelhia do PS.

Que duas pessoas, que integravam a mesma lista candidata nas últimas eleições, andem à espadeirada cibernética concede-se. É habitual em política. Se for acompanhada de imagens simbólicas, até entretém. Mas que o presidente de uma autarquia, comendador da Ordem do Infante D. Henrique (que decerto se revolve na tumba com tais gestos), escreva ameaças veladas a uma jovem de 22 anos bate tudo o que tenho visto. Aliás, isto é tão confuso que eu já perdi a conta das escaramuças em curso nesta cidade. E logo entre irmãos de guerra. Pois no primeiro caso os protagonistas militam em dois partidos que integraram uma coligação. E nos restantes, tudo se passa na mesma casa socialista, que em Elvas tem duas moradas. Estamos para ver se, como diz o povo, quando se zangam as comadres se descobrem as verdades.

Em tom menos agitado: há umas semanas falei da recusa do executivo municipal em executar duas propostas aprovadas pelo Orçamento Participativo do Município de Elvas em 2021. Os promotores dos projectos – Teresa Guerreiro e Fábio Brás – viram-se assim traídos nas suas legítimas expectativas de poderem receber apoio financeiro para estas iniciativas, pois no entender de Rondão Almeida medidas aprovadas em mandato anterior não transitariam para o actual. Nessa altura terminei desejando que o executivo tomasse rapidamente consciência da ilegalidade em que incorria e honrasse os compromissos assumidos.

Felizmente, assim parece ter acontecido agora. Para bem dos promotores e da Câmara de Elvas. Rondão voltou com a palavra atrás e viabilizou a execução destes projectos. Como se imagina, não é de ânimo leve que um político dá o dito por não dito, e para que um volte-face destes tenha ocorrido um motivo muito preponderante deve ter entrado na equação – talvez o desejo de reparar um mal cometido, o respeito pelos munícipes ou a maior glória de Elvas, “que outro valor mais alto se alevanta”. Mas nem a bela cena do edil elvense a cantar Os Lusíadas me pode deixar indiferente às semelhanças que este caso tem com outro seu contemporâneo. A presidente da Câmara de Nisa, a socialista Idalina Trindade, foi em Novembro passado acusada pelo Ministério Público de um crime de abuso de poder num caso relacionado com a atribuição de um subsídio de €160.000 à Associação para o Desenvolvimento de Nisa. Este subsídio havia sido aprovado pelo município, mas a beneficiária nunca o recebeu. Quaisquer coincidências com a realidade parecem puras semelhanças.

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