Vamos começar este mês “a correr”.
Por estar mais próxima do Sol, a Terra completa uma volta à nossa estrela mais rápido do que o planeta Marte. Assim, de 26 em 26 meses, a Terra dá uma volta de avanço ao planeta “vermelho”. Mas isso também significa que os dois planetas se encontram no ponto de maior aproximação, a cada 26 meses.
Como a órbita de Marte é mais elíptica do que a da Terra, a maior aproximação entre os dois planetas não ocorre sempre à mesma distância, podendo variar entre os 55 e os 101 milhões de quilómetros. A dia 1 de dezembro de 2022, a Terra alcançou a maior aproximação com Marte em 26 meses, com os dois planetas a uma distância de aproximadamente 82 milhões de quilómetros. Neste dia a Lua passou a apenas 5 graus de Júpiter e no dia 7, o nosso satélite está a cerca de 4 graus de Marte.
Por causa da forma da órbita marciana, apesar da maior aproximação ocorrer no dia 1, o planeta só atinge a oposição, isto é, o ponto em que o Sol, a Terra e Marte estão perfeitamente alinhados, no dia 8 de dezembro. A oposição tem este nome porque, no nosso céu, Marte está perfeitamente oposto ao Sol.
Durante todo o mês de dezembro, os planetas Marte, Júpiter e Saturno estão visíveis logo ao anoitecer, com Marte a ficar cada vez mais alto no céu. Mais para o fim do mês, Vénus volta a aparecer no céu, ainda baixo no horizonte ao anoitecer, e nos dias 28 e 29, Mercúrio, bastante menos brilhante que os restantes, passa a pouco mais de um grau de Vénus.
No dia 14 ocorre o pico da chuva de meteoros das Geminíadas. Esta é das mais intensas chuvas de meteoros do ano, com até 150 meteoros visíveis por hora no máximo (em céus escuros). Infelizmente o pico está previsto ocorrer por volta da uma da tarde e a Lua, em quarto minguante, ilumina o céu durante grande parte da noite. Ainda assim, como as Geminíadas produzem meteoros bastante brilhantes, a noite de 13 para 14 deverá ser interessante para os caçadores de “estrelas cadentes”.
No dia 21 de dezembro, às 21:48, ocorre o solstício de Inverno (no hemisfério Norte). Esta é a noite mais longa do ano! O Sol no Porto nasce às 7:57 e a põe-se às 17:09, com o dia a durar 9 horas e 12 minutos. Em Bragança o dia dura 9h08min (das 7:51 às 16:59), em Coimbra 9h18min (das 7:53 às 17:11), em Lisboa 9h27min (das 7:51 às 17:18), em Faro 9h37min (das 7:41 às 17:18). Já no arquipélago dos Açores (Ponta Delgada), o dia dura 9h33min (das 7:54 às 17:27), enquanto na Madeira (Funchal), o dia dura 10 horas certas (das 8:05 às 18:05).
A palavra solstício é de origem latina (deriva de Solstitium, que significa “Sol parado”) e está associada à ideia de que o Sol, ao atingir a sua mais alta (verão) ou mais baixa (inverno) posição no céu, devia estar estacionário. Isto verifica-se na duração do dia, que é basicamente a mesma, ao minuto, nos 4 dias imediatamente antes e 4 dias imediatamente depois do solstício.
Na véspera de Natal, um finíssimo crescente da Lua, acabadinha de sair da lua nova, forma um triângulo no céu com Vénus e Mercúrio, logo a seguir ao Sol se pôr. Mas não se distraiam, porque só se vê durante cerca de 45 minutos, com a Lua e Vénus a desaparecerem abaixo do horizonte por volta das 18h15.
No dia 26 a Lua passa a pouco mais de 4 graus de Saturno e no dia 29, a cerca de 3 graus de Júpiter.
Boas observações, boas festas e votos de um 2023 mais pacífico.
Ricardo Cardoso Reis (Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)