Acreditar num Deus Criador é o primeiro movimento do homem religioso. É uma resposta filosófica da religiosidade natural do ser humano – muito antes de ser uma manifestação de fé – conceber que eu não sou a origem de mim próprio e que não comando o meu destino.
Tal assim é, que a Igreja Católica definiu como dogma na Constituição Dogmática Dei Filius do Primeiro Concílio do Vaticano que “[…] Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas; pois as perfeições invisíveis tornaram-se visíveis depois da criação do mundo, pelo conhecimento que as suas obras nos dão dele [Rm 1,20 ]”. E apesar de este dogma não deixar de afirmar que foi, no entanto, pela revelação sobrenatural que a Deus aprouve revelar-se ao género humano, isso não nega que no âmago do seu ser o homem seja profundamente religioso e tenha até hoje exprimido “a sua busca de Deus em crenças e comportamentos religiosos (orações, sacrifícios, cultos, meditações, etc.). Apesar das ambiguidades de que podem enfermar, estas formas de expressão são tão universais que bem podemos chamar ao homem um ser religioso […]” (Catecismo da Igreja Católica, 28).
Ora, nada poderia estar hoje mais apartado da cultura contemporânea do que reconhecer que Deus é o nosso Criador. E é precisamente pelo facto de o homem ter recusado a sua condição de criatura e recusado admitir que outro que não ele o tenha criado e identificado, que a actual revolução antropológica ocorrida no âmbito da sexualidade e da família teve lugar. Assumindo-se o homem como o único criador, colocando-se no lugar de Deus, transformando-se no super-homem nietzschiano, é ele quem dita agora a concepção do mundo, mesmo que colida com os mais elementares cânones científicos.
Quando Simone de Beauvoir escreveu “On ne nait pas femme: on le devient” sedimentou nesta frase (talvez inconscientemente) toda a base teórica da ideologia de género; porque se o homem não aceita que aquilo que é seja ditado por uma autoridade anterior e superior à sua, pode fazer com a sua vida, sexualidade e corpo aquilo que quiser. Assim desapareceram os dois sexos que Deus criou no princípio – “Ele os criou homem e mulher” (Gn 1, 28) – e inaugurou-se um catálogo interminável de géneros construídos artificialmente que simplesmente negam as evidências biológicas da sexualidade binária.
E esta soberania que o homem assumiu sobre a sua vida destrói não só a identidade sexual, mas também a própria família. Em primeiro lugar, porque a recusa da condição criatural nega também na vocação conjugal uma aspiração superior que não pode ser determinada pelo homem. Depois, porque a autodeterminação de género destrói as bases do casamento: a identidade masculina e feminina e a conjugalidade heterossexual.
Sendo a actual base do matrimónio a mera existência de afectos, e já não sendo consolidada pelos deveres dos esposos na prossecução da vida familiar, uma vez que estes desapareçam toda a instituição pode facilmente ser desfeita porque não existe nada acima dos cônjuges.
Como começámos por dizer, não é necessário que o homem adira à revelação divina para que no seu coração encontre inscritos os princípios da moral natural dos quais nascem o desejo pelo sobrenatural, a ética, a verdade, a procriação, o casamento e a família. Daí que qualquer homem de boa vontade, intelectualmente honesto, possa aceitar abertamente os princípios da sexualidade binária sem que professe qualquer credo, porque não se trata de uma questão teológica, mas sim antropológica e biológica.
Como o meu filho só cumpriu um ano há pouco tempo, julguei poder estar ainda imune ao flagelo das canções infantis durante mais alguns meses (ou anos), mas enganei-me. Nada contra as músicas para bebés no geral, diga-se já, mas se fossem ainda aquelas que os meus irmãos e eu, pais e avós aprendemos, era compreensível preservar o património imaterial da humanidade infantil. Mas por alguma razão – serão as mensagens PANliticamente pouco correctas contidas em frases como “Ora dizem mal dos caçadores, ai por matarem os pardais”? – o que agora se ouve (e também já ouço, que disso se encarregou a minha querida mulher) alterna entre “Babby Shark” (3.300 milhões de visualizações no Youtube) e as músicas do grupo Panda e os Caricas. Precisamente ouvindo o opus magnum deste ensemble “Sou uma Taça” (30 milhões de visualizações), que fala da possibilidade de cada um poder ser o utensílio de cozinha que bem lhe apetecer (“Sou uma taça, uma chaleira, uma colher, um colherão”, etc.) lembrei-me de quão próxima está a autodeterminação culinária da autodeterminação de género, uma vez que tanto uma como outra não consideram a realidade material empírica como relevante para se assumir uma identidade.
Assim, e por que não existem quaisquer limites biológicos a essa assunção sexual, a partir de hoje eu identifico-me com uma chaleira, dada a minha preferência doentia por chá, e exijo que ao meu filho, que se identifica com um xícara de porcelana, não lhe seja obrigado pelas SS da moral conservadora frequentar a casa de banho dos rapazes e antes se lhe permita o livre acesso ao lava-loiças da cantina do colégio, sempre que precisar.
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