Citando uma das melhores professoras que tive no ensino superior “se provarem cientificamente que algo é possível, um dia alguém vai utilizar isso em larga escala”. O que esta docente quis transmitir, foi que todas as grandes inovações, todas as grandes tecnologias que dominam o mundo (smartphones, aplicações, redes sociais, medicamentos inovadores, etc.) tudo o que possamos pensar começou com uma finalidade puramente científica.Existem dois tipos de investigações científica: a fundamental e a aplicada. Ambas são importantes para um mundo em desenvolvimento e ambas devem ser financiadas contudo, a investigação aplicada está dependente da fundamental.A investigação fundamental refere-se à investigação que tem como objetivo descobrir algo, ou compreender melhor um determinado fenómeno (o que muitos alcunham de inútil), em última análise é puramente a necessidade humana em querer saber mais. Por oposição a investigação aplicada dirige-se para questões com aplicação direta na sociedade, seja na área tecnológica, na saúde, energia, etc. Exemplificando, um astrónomo que se dedique a estudar os processos químicos dos elementos que compõem o Sol, estará a fazer investigação fundamental, que à primeira vista, não tem qualquer interesse para a sociedade. Contudo as descobertas deste cientista poderão ser usadas por alguém na indústria da energia solar, que irá produzir painéis solares mais eficientes, tornando a indústria mais rentável e ajudando a reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.Do ponto vista politico/económico, a investigação aplicada é bastante mais rentável. Apresenta resultados diretos e justifica mais facilmente o gasto do dinheiro dos contribuintes ou da empresa. Contudo é a investigação fundamental que gera grande parte do conhecimento necessário. Este é precisamente um dos pontos mais sensíveis, devido aos resultados e ao objetivo de uma investigação aplicada, esta poderá mais facilmente ser preferida por empresas e particulares para receber financiamento, deixando a fundamental ao cargo do governo e de mecenas.
Como pode ver caro leitor ambas as investigações são importantes para a evolução do conhecimento e progresso científico, económico e social. Em Portugal, a ciência parece ainda ser vista como algo que influencia a vida das pessoas mas muitos parecem não lhe reconhecer a devida importância. Apesar de ser suspeito, é claramente um erro. Sei bem que não somos um país com um tecido industrial muito desenvolvido e que seja capaz de financiar investigações e também não abundam mecenas dispostos a doar dinheiro e ainda o nosso governo não dispõe dos mesmos recursos que por exemplo os EUA ou a China, mas a investigação é o motor da sociedade. Descobrir algo novo pode criar uma indústria, ou desenvolver outra já existente, cria postos de trabalho e atrai os melhores cientistas para Portugal. Apesar dos custos serem enormes, as vantagens são megalómanas.
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Biólogo e mestrando em biologia evolutiva e do desenvolvimento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

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