Nos últimos anos têm-se vindo a disseminar pela comunidade científica, em especial pelos ambientalistas, uma enorme “abelhofobia”! Não que os biólogos tenham desenvolvido um medo irracional de abelhas, desenvolveram sim um enorme receio e preocupação com a morte de milhares destes insetos, fenómeno que recebeu o nome de Colapso das Colmeias.
Por esta altura deverá estar a pensar que lhe irei dar todo um enorme discurso sobre conservação e ambientalismo acerca de um animal que não interessa a ninguém. Lamento desiludi-lo. Ao contrário de outros animais mais emblemáticos, as abelhas têm um impacto gigante nos ecossistemas terrestres e nas nossas vidas.
As abelhas, como decerto já verificou, passam a sua curta vida atarefadamente a poisar de flor em flor para recolher o néctar com que farão o seu delicioso mel. Contudo as abelhas fazem mais do que isso. Para além do néctar, elas levam também (ainda que involuntariamente) o pólen das flores. Ao visitarem várias flores elas transportam pólen de uma flor para a outra, este fenómeno recebe o nome de polinização. Ora, o pólen é na verdade a forma como as plantas (que possuem flor) se reproduzem. As abelhas são por isso responsáveis pela reprodução dessas plantas.
As plantas com flor, a que os biólogos chamam de angiospérmicas, são o grupo de plantas terrestres mais numeroso e com maior importância nos ecossistemas terrestres. Grande parte dos animais herbívoros depende, de alguma forma, destas plantas para a sua alimentação. Nós, apesar de não sermos herbívoros mas sim omnívoros, estamos dentro deste pote. Árvores de fruto, legumes e hortaliças são exemplos de plantas que dependem da polinização, bem como parte das plantas usadas para alimentar o gado.
A principal razão para que o fenómeno do “Colapso das Colmeias” ocorra é, infelizmente, ainda desconhecido. Muitas causas são apontadas, sendo que a principal suspeita é o uso de produtos químicos nocivos e inseticidas que têm o duplo efeito de eliminar os insetos prejudiciais às culturas e jardins porém acabando por matar também os insetos polinizadores como as abelhas e as borboletas. Outra hipótese são os campos magnéticos produzidos pelas nossas tecnologias de comunicação que interferem com os sistemas de orientação das abelhas. Factores tais como: os parasitas, a diminuição de recursos e a recente invasão da vespa asiática (Vespa velutina) na Europa, vêm piorar ainda mais a situação das abelhas.
Proteger estes pequenos insetos não significa proteger apenas mais uma espécie, significa proteger todas as plantas com flor, todos os herbívoros que dependem dessas plantas e todos os carnívoros que destes dependem. Em suma significa proteger todos os ecossistemas terrestres.
Apesar de pequenas e quase indefesas, as abelhas desempenham um papel extremamente importante na Natureza. Substituir as abelhas, em polinização artificial, seria uma tarefa que faria com que os governos e os agricultores despendessem milhares de milhões de euros, para além de que seria uma tarefa digna de pertencer aos doze trabalhos de Hércules.

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Biólogo e mestrando em biologia evolutiva e do desenvolvimento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

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