A quimioterapia, tal como é conhecida, pode ter os dias contados. O futuro pode passar pelas “CART cells” – Chimeric Antigen Receptor T cells, células do sistema imunitário de cada um de nós, encontradas na medula óssea, e que permitem combater as células intrusas.
AS CART cells distinguem as células normais das células “intrusas”, que originam os tumores cancerígenos (líquidos ou sólidos). Este método permite, através da localização de “checkpoints”, que são activados ou desactivados, combater as células intrusas e deixar apenas as células normais.
O Instituto Português de Oncologia de Lisboa tem em marcha um Programa de Terapia Celular que consiste na expansão, actualmente em laboratório, de Mesenchymal Stromal Cells (MSC), que é um processo minucioso, rigoroso e lento, que espera optimizar através da utilização de um bioreactor que, como o mesmo rigor, acelere o processo de obtenção destas células.
A revelação foi feita pelo director do Departamento de Hematologia e do Serviço de Transplantação de Progenitores hematopoiéticos do IPO de Lisboa e presidente da Associação Portuguesa de Luta contra a Leucemia, Manuel Abecassis, no decurso das I Jornadas Luso-Espanholas de Hematologia, que decorreram no Colégio Médico de Badajoz, organizadas pela Associação Oncológica da Extremadura (AOEX) e pela Associação Oncológica do Alentejo (AOAL) e nas quais participaram hematólogos espanhóis e portugueses.
O IPO de Lisboa dispõe igualmente de programa de congelação familiar de sangue do cordão umbilical, destinado às crianças com leucemia.
O primeiro transplante de medula óssea em Portugal realizou-se em Maio de 1987, no departamento de hematologia do IPO de Lisboa, pela equipa do médico e professor universitário Manuel Abecassis. Nesse ano, foram feitos cinco transplantes de medula óssea
Em 2014, foram feitos nos seis centros de transplante de medula óssea existentes em Portugal (dois no Porto, um em Coimbra e três em Lisboa) 521 transplantes de medula óssea, dos quais 140 alogénicos (utilizando células tronco de um doador saudável) e 381 autólogos (utilizando células tronco do próprio doente que são tratadas com altas doses de radiação ou quimioterapia para garantir a inexistência de células cancerígenas). No IPO de Lisboa são feitos, em média 90 transplantes por ano.
Actualmente existem em Portugal cerca de 400 mil dadores voluntários de medula óssea inscritos no registo nacional de transplantes de medula óssea.
Que há muito que aprender em imuno-oncologia foi também defendido por Julio Suarez, professor da universidade de Alcalá (Madrid) e hematólogo no Hospital de Madrid que disse que as técnicas de sequenciação massiva que hoje estão a ser desenvolvidas vão permitir que a investigação de hoje seja a medicina de amanhã.
As I jornadas Transfronteiriças de Hematologia juntaram, nos dias 19 e 20, no Colégio Médico de Badajoz médicos, enfermeiros, doentes e dirigentes associativos dos dois lados da fronteira
Na abertura, que contou com a presença de representantes dos sectores da saúde na Extremadura e Alentejo, Pedro Hidalgo, do Colégio Médico de Badajoz, e José Robalo, presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo, realçaram a importância de iniciativas que incluam doentes e respectivos familiares – “temos muito a aprender com os familiares dos doentes”.
As jornadas constituíram a primeira iniciativa conjunta entre a AOEX e a AOAL. Em 2016, será a vez de o Alentejo, provavelmente em Elvas, receber e organizar idêntica iniciativa, promovendo um encontro na área da oncologia.